Artigo de Guaçu Piteri: 'Estadista ou oportunista?'
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O que vinha intrigando a mídia, nos últimos meses, era o decidido apoio dos pesos pesados do PIB à preservação do mandato de Dilma.
Depois de emplacar Joaquim Levy no Ministério da Fazenda e levar, de quebra, as pastas do agronegócio, da indústria e do comércio, o apoio do empresariado ganhou consistência e visibilidade.
Entretanto, esse surpreendente namoro vem perdendo o encanto e o viço.
As bases políticas da presidente, enciumadas com a perda de espaço, passaram a boicotar a ação de Levy que, alijado do protagonismo prometido, está imobilizado e borocoxô.
O PT e aliados que levaram o Brasil ao fundo do poço, protestam, agora, com veemência, contra os remédios amargos da receita do ministro indicado pelo mercado financeiro.
Enfraquecida e pressionada pela oposição e pelo fogo amigo, a presidente, resolveu terceirizar, também, o comando político, que deferiu ao seu vice.
Foi um tiro no pé.
Temer, articulador hábil e experiente, acampou em São Paulo, templo do poder econômico, e consolidou a confiança do empresariado em sua liderança.
Sucede que, enquanto os encontros e reuniões se desdobravam aqui, na província, lá em Brasília, deputados do PMDB, favoráveis ao “impeachment”, costuravam a chamada “solução Itamar” de salvação nacional.
Quem não se lembra que, quando Collor caiu, foi substituído por seu vice Itamar Franco?
A “Missão Temer”, de busca do resgate da governabilidade, passou a gerar desconfiança.
Era voz corrente, no Planalto, que os deputados favoráveis ao “impeachment”, aguardavam apenas uma indicação clara do próprio Temer confirmando sua disposição de assumir a presidência, se necessário.
Segundo essas fontes, a senha chegou, quando o vice, em reunião com empresários paulistas, declarou que Dilma não chegaria ao fim do mandato se seguisse com a baixa popularidade, (7% ou 8%).
Foi o suficiente para que a chamada “solução Itamar”, ganhasse força, não só no meio político, senão também, no empresariado, setores fundamentais para sustentação da presidente.
Indagado por um empresário se queria entrar na História como “estadista ou oportunista”, Temer irritado, repeliu a insinuação com vigor, afirmando que não move uma palha para prejudicar a presidente.
Desse “imbróglio” resta uma especulação, ou melhor, duas: o despreparo de Dilma para administrar a crise política e a máxima de que o papel do vice é conspirar.
Quanto à pergunta, só o tempo que, segundo dizem, “… é o senhor da razão”, poderá responder.
A conferir.