Antônio Fernandes do Rêgo: 'Quando cheguei'
Quando cheguei
Quando cheguei bati, o portão rangeu,
Lá dentro um riso abriu. Chamei: “sou eu! ”
Estava, pois, no seu melhor abril;
Nos prevenimos de um acaso ardil.
Ameno em seu feraz jardim floria
Um verde gaio botão que já se abria;
Tinha o viço febril da juventude,
Apta ao voo em alçada plenitude.
Flácida, feminil, parda, meio pálida,
Despontara o fervor de sua crisálida,
Uma rota não fora inda explorada,
Toda uma geografia assaz delicada.
Firme a maturidade inaugurou,
E toda a suavidade ali ficou.
Um disco de Gardel, fi-la rodar,
Eram juras de amor, pus-me a sonhar.
Quando cheguei a rosa, já era flor,
E em ziguezague, eu era um beija-flor,
Ou nós dois, colibris em pleno voo.
Canção aquela que eu ainda a entoo.
Voamos ao longe, voamos entre a flora.
Encantamos o mundo vida afora,
Havia o que construir, a fazer ninho.
Cantar a vida, vida passarinho.
É o que diz este canto de venturas,
Que era o conto de nossas travessuras
Apenas uma lenda apetecida,
Mas feliz porque se sonhou na vida.
Era o nosso viver, nossa alegria,
Os nossos sonhos, quanta fantasia…
E a nossa primavera foi-se embora,
Procuro no horizonte aquela aurora.
Antônio Fernandes do Rêgo