Livro aborda o curandeiro João de Camargo como sujeito histórico
Livro aborda o curandeiro João de Camargo como sujeito histórico
Abordar a personalidade histórica de um místico e religioso nem sempre é tarefa simples. Mas foi esse o desafio empreendido pelo historiador Carlos Carvalho Cavalheiro para a publicação de seu mais recente livro, ‘João de Camargo, o homem da Água Vermelha’.
No início do século XX, o ex-escravizado João de Camargo construiu uma igreja nas proximidades do atual bairro do Campolim, na qual realizava um culto que mesclava elementos do catolicismo, do espiritismo e de tradições africanas. Imediatamente, o misticismo se sobressaiu na biografia de João de Camargo, fazendo com que surgissem livros que abordassem o aspecto religioso, os milagres, as curas e a mediunidade dele. Importantes autores de Sorocaba escreveram sobre João de Camargo, destacando-se Antonio Francisco Gaspar, Genésio Machado, José Barbosa Prado, José Carlos de Campos Sobrinho, Adolfo Frioli, Sonia Castro, Fernando Lomardo, Antonio Paulo Malzoni entre outros. Todos evidenciaram, da história de João de Camargo, o aspecto de sua ‘missão’, enquanto fundador de um culto religioso.
“Todas essas obras, associadas a artigos de Aluísio de Almeida, Paulo Fernando Nóbrega Tortello, Florestan Fernandes entre tantos outros, tiveram a sua importância, cada qual em sua época, no escrutínio da religiosidade que envolve João de Camargo”, defende o historiador Carlos Cavalheiro. “Por outro lado, como curiosidade intelectual, senti a necessidade de encontrar respostas a questões que não eram alcançadas por esses estudos anteriores”, complementa Cavalheiro.
Para exemplificar, o historiador cita a construção de uma escola e a formação de uma banda musical.
“João de Camargo gastou uma fortuna para constituir, manter e equipar a banda. A justificativa apresentada era a de que ele recebeu uma inspiração sobrenatural. Eu encontrei elementos que me permitem afirmar que além da suposta inspiração, outros motivos levaram João de Camargo a criar a banda. Dentre eles, a promoção social de músicos negros da cidade de Sorocaba”.
Para Cavalheiro, tanto a criação e manutenção da escola – criada na década de 1930 para atender a população local do entorno da igreja – quanto da banda demonstram a preocupação social de João de Camargo com a situação de exclusão social que ocorria na cidade.
Com isso, o autor defende a ideia de que João de Camargo escolheu as suas lutas, criou um território negro em Sorocaba e estabeleceu um embate simbólico e ideológico entre a versão burguesa da ‘Manchester Paulista’ contra a cidade das tradições negras e caipiras.
Carlos Carvalho Cavalheiro advoga a opinião de que João de Camargo é um sujeito histórico consciente de seu papel enquanto liderança negra.
Para o também historiador Rogério Lopes Pinheiro de Carvalho, que assina o prefácio da obra, “O historiador mostra que geralmente estudos sobre o Homem da Água Vermelha mostram uma pessoa que se deixa levar pelo divino e pelo misterioso, quase como se não tivesse voz própria. Há aí inclusive um perigo de manifestação de um racismo velado que parece dizer que um ex-escravo não teria condições de agir de maneira consciente e de utilizar estratégias de luta contra uma sociedade racista e excludente”.
Serviço
O livro ‘João de Camargo, o Homem da Água Vermelha’, de Carlos Carvalho Cavalheiro é vendido ao preço de R$ 40,00.
Interessados podem se dirigir diretamente ao autor pelo whatsapp: 15 99174-6634.
150 páginas com Ilustrações.
O Autor
Carlos Carvalho Cavalheiro é autor de mais de duas dezenas de livros, versando sobre diversos assuntos.
É Mestre em Educação, Pedagogo, Teólogo, Historiador e professor de História da rede pública municipal de Porto Feliz. Colaborador dos jornais Tribuna das Monções e Jornal Cultural ROL).