Cláudia Lundgren: 'Aos amigos de longe'

Cláudia Lundgren

Aos amigos de longe

  Estive em busca de amigos. Procurei-os nos lugares mais próximos: na parede-meia, na casa ao lado, dentro do meu quarteirão. Via muitos rostos na rua, sempre os mesmos, e procurei neles encontrar a amizade. Mas, na verdade, o que encontrei, na sua maioria, foram tão somente cumprimentos de “bom dia”.
Talvez pelo meu jeito tímido de ser e aparentemente seco, a culpa seja totalmente minha por não ter a arte de cultivar amizades, principalmente nos pontos de ônibus da vida ou nas esquinas do meu bairro. Não são poucas as vezes em que saio e volto calada. Eu sei: amizade tem relação direta com a comunicação.
Sinto-me bem mais confortável escrevendo. Sabe aquela história, “Meu querido diário…’? Pois é. Sempre foi assim. Para mim é muito mais fácil expressar através da caneta, ou do teclado do celular, minhas ideias e sentimentos.
Claro, tenho amigos de perto. Como diz a frase clichê: “Poucos, mas verdadeiros.”. E como eu disse, talvez por minha culpa mesmo.
Mas, voltando ao assunto da escrita: quando ingressei nesse mundo encantado e comecei a postar meus primeiros rabiscos, mal sabia eu que, ali onde eu nem sequer procurava, e nem ao menos imaginava, encontraria muitos deles: os amigos.
Fui adicionando pessoas do meio literário, em minha rede, e mal sabia eu que pescaria amigos.
Confesso que meu pensamento é um pouco rígido e que custei para me acostumar com a ideia de enviar áudios. O meu “eu artístico” grava vídeos, já participou de algumas lives, mas o meu “eu pessoa” jamais conversou com alguém por chamada de vídeo. Minto! Já fiz com meu neto e minha filha.
Eu preferia apenas digitar. Era um misto de timidez com “o não querer”,  simplesmente. Com o passar do tempo, e também pelo tempo cada vez mais curto, fui aderindo às mensagens faladas.
Encontrei aqueles que falavam pouco, e também, os que falavam por horas; quem falava diariamente, e os que somente no momento necessário. Entre eles, fiz colegas e amigos.
São muitas as formas de se expressar amizade. São amigos os que nos emprestam dinheiro, e são amigos igualmente aqueles que oram pela sua vida ou emprestam seus ouvidos. Amigo é todo aquele que te levanta quando você cai. Eles nos amam na riqueza ou na pobreza; na saúde ou na doença; magros ou gordos; na velhice. Amizade é, de certa forma, um matrimônio. Amigos te amam pela sua essência, por aquilo que você representa. E cada um tem seu próprio jeito de demonstrar amizade, através de gestos, falas, ou até mesmo de silêncios. Eles nos aceitam como somos. Com eles já dei boas gargalhadas, já chorei junto, e também me emocionei. Cada um deles são anjos que todo dia batem a minha porta.
Encontrei amigos que nunca nem ao menos vi. Encontrei mãos que jamais toquei. E para mim não tem esse negócio de amizade virtual. Amigo que é amigo é carne, é osso, é sentimento é real. São pessoas como eu, no outro lado da tela.
Existem aqueles que dormem ao seu lado e te traem, e em contrapartida, os que te estendem a mão do outro lado do mundo.

Claudia Lundgren tiaclaudia05@gmail.com