Cláudia Lundgren: 'A criança que habita em mim'
A criança que habita em mim
A criança que habita em mim saúda a criança que habita em você.
Tenho quase 50, mas ainda pulo literalmente de alegria quando a notícia é boa. Fico zangada, e minutos depois, rio a toa. Se caio na rua e esfolo os joelhos, ou se a vida me prega alguma peça, choro litros, faço bico, quero colo.
A começar pelo meu tamanho. De criança. Tenho 1,57, todos os meus filhos são maiores do que eu; tenho alunos que estão quase me alcançando.
Não tenho vergonha de dizer. A criança que há em mim é preguiçosa, e ainda pede um copo d’água para alguém se está deitada embaixo da coberta quentinha. Ainda tem medo dos monstros. Eles só mudaram de endereço.
Aprendi que os castigos que a vida me dá são bem piores do que os do meu pai. E que, depois de adulta, as surras doem muito mais. E como a criança ainda habita em mim, parece que não aprendo e insisto, de vez em quando, nos mesmos erros.
Sou como a criança que deseja saber o porquê de tudo. Que ainda gosta de ficar horas e horas com seu livro de histórias.
A simplicidade de uma criança me invade. Sento na grama, colho uma margarida, brinco de bem-me-quer. Será que ele ainda me quer? Somente a última pétala dirá.
Gosto de escrever teu nome na areia da praia. Naquela árvore, ainda vejo os nosso gravados. Aquelas coisas de criança.
A infância me persegue, brinco de constante pega-pega, almejando, um dia, te alcançar. Brinco de cabra-cega, tentando, no escuro, entre tantos, te encontrar.
Ainda me lembro daquela boneca quando troco a fraldinha da minha neta.
Que essa criança que habita em mim não cresça. Que ela não deixe eu ser, de tudo, ranzinza. Que eu continue me alegrando com as pequenas coisas. Que a cada manhã eu seja esperançosa como aquela menina que sonha, e que tem a plena certeza, de que irá ganhar o seu brinquedo novo.
Claudia Lundgren
tiaclaudia05@gmail.com