Letícia Mariana: 'Mariana e Lispector'
Mariana e Lispector
— Cansei do diurno, me resta sonhar! – eu disse, pensando em mim.
— Este é um livro de não memórias, Letícia. – Lispector se aquietou. — É um livro como quando se dorme profundo e se sonha intensamente.
— Tangível seria a certeza que a matéria não desperta. – eu precisava de um café. — Lispector, há quanto tempo escreves?
— Desânimo. – insistiu. — Gosto de cigarro apagado.
— Quando decidires andar, seja ouvinte. – respondi. — Quando então a audição cansar, veja o timbre.
— Letícia, a sensação é a alma do mundo. – lispector chorava baixinho. – A inteligência é uma sensação?
— Em Ângela é. – eu respondia enquanto degustava um café. – Li seu livro, Clarice.
— Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. – Ela não gostava de meios termos.
— Provavelmente a sua própria vida. – Completei. – E eu digo o mesmo.
Eu temo a mim. Temo a mim como temo Lispector, pois em cada momento de leitura, sinto mais próxima a presença da autora que tanto me faz refletir. Já me perguntaram se eu queria ser Clarice, insisti que desejava ser Mariana. Ninguém rouba o cargo de ninguém nas Letras, pois a escrita é uma dádiva individual que se faz em conjunto. As amizades intelectuais são repletas de padrões, normas, e eu fujo das regras. Mesmo fugindo de regras, preciso tê-las por opção, e assim elas deixam de existir. Se eu respeito as regras, logicamente fujo da regra de não as respeitar, e essa seria a minha maior rebeldia. Será que Lispector me escuta? Pouco me interessa, pois necessito ouvi-la mais do que a mim. E eu temo a mim?
Agora preciso ir, pois vou respeitar um pouco as minhas regras de espaço.
LIVROS DE REFERÊNCIA:
Um sopro de vida, LISPECTOR, Clarice
Entre Barbantes, MARIANA, Letícia
Letícia Mariana
Letícia Mariana
leticiamariana2017@gmail.com