Antônio Fernandes do Rêgo: 'A Mulher de Lot'
A Mulher de Lot
Somente — mulher de Lot.
Porém ela se arriscaria
A tudo por um olhar, só.
Pra ver o sítio frutuoso,
Na fértil planície em frente,
a sua casa onde o esposo
Trabalhava alegremente.
O monte alvo que ao sol brilha,
A casa do seu agrado,
Onde deu as duas filhas
Ao seu homem dedicado.
Lá, ficara os cabedais,
Árvores que ali plantara,
Seus pertences pessoais,
Quem sabe… a ela coisa rara.
Uma tentação qualquer.
E ali se fincaram os pés
Da estátua de sal, mulher.
Decerto isto causa dó,
Que se fica a imaginar,
A vida por um olhar, só!
E por que tanto arriscar?
Ao me ver nos verdes anos,
Que eu lembro a mulher de Lot,
No pó dos meus desenganos.
Tentado eu me sentiria
Nesta minha lassitude,
Será que tudo eu não faria
Pela minha juventude?
Mas vejo uma lição a mais:
Quem parte que se aparte
Dessas cousas materiais,
E não se aflija ao que descarte.
Antônio Fernandes do Rêgo
aferego@yahoo.com.br