Eliana Hoenhe Pereira: 'Era assim…'
Era assim…
(Beco dos crentes, Rua da Boiada, Cruzeiro -SP. Um conto alusivo à década de 50/60)
A mãe de Liz, assim que soube dos novos vizinhos da rua (Beco dos crentes), tratou de avisar a menina: “muito cuidado, esse pessoal de circo”, são perigosos. Não me saia daqui de perto de casa. O Sr. Sebastião que morava mais próximo da família está falando que suas galinhas estão sumindo e só podem ter sido eles.
Sr. Beca e família haviam abandonado o circo depois de viver uma vida. Tinha sido palhaço junto com a esposa dona Franzina.
Sr. Beca era gordo, baixo e usava óculos. Tinha fala fina e uma cara muito engraçada. Dona Franzina era anã. Fatinha sua filha caçula, logo se enturmara com as crianças da rua.
Liz, danada de curiosa foi logo dando um jeitinho de conhecer a casa da amiga. E foi no primeiro convite escondida da mãe. Não perdera um minuto… Seus olhinhos corriam para todos os cantos da casa. O que chamou a sua atenção eram os grandes baús na sala. E nem precisou perguntar o que tinha dentro; Fatinha foi tirando peça por peça. Os olhos de Liz pareciam que iam saltar, de tanto brilho que saia de dentro. Eram maiôs, vestidos, sapatilhas, luvas, peles, cores vivas e muito brilho. Quase nada de mobília. Alguns colchões esparramados pela casa, bancos e cortinas. Era um cenário de circo. Liz, seguindo a amiga experimentara várias roupas e muitas gargalhadas foram dadas. Na cozinha vários banquinhos e o fogão. Liz se lembrara da mãe e tratou de olhar para dentro das panelas para ver se havia alguma galinha do Sr. Sebastião.
Mas era no final da tarde que o Beco pegava fogo. Cada um saía de suas casas para brincar: “Mamãe posso ir”? “Corre cotia”, pular amarelinha e tantas outras. Os cheiros se misturavam e só no dia seguinte é que a bacia d’água os aguardava.
A rua de terra, o relógio era o sol, os amigos não tinham cor. As gargalhadas eram espontâneas e a infância vivida intensamente.
Eliana Hoenhe Pereira
eliana.hoenhe1@hotmail.com