Eliana Hoenhe Pereira: 'Levar a vida com leveza'
Levar a vida com leveza
O inverno naquele ano estava rigoroso. Liz, como era friorenta, parecia uma turista nos Estados unidos, no mês de novembro. Vestia um sobretudo, botas, gorro e até luvas. Em férias, fora passar uns dias na chácara da família, onde vivera toda a sua infância. Conhecia cada pedacinho do local como a palma da sua mão. As serras estavam tomadas pela neblina, mas a paisagem como sempre “deslumbrante”. Conseguia ouvir o barulho do vento e até mesmo o voo dos pássaros. O cheirinho do café, mesmo longe da casa, impulsionou- a segui-lo e foi logo para a cozinha tomar uma xícara, bem quentinho, “saindo fumaça”, era assim que gostava e a seguir fora caminhar pelos arredores. Em determinado momento parou e olhou para o silêncio do rio que passava lá embaixo e pensou com os seus botões: “Um dia li em algum lugar que a felicidade requer trabalho, não um trabalho intenso, mas que se preste atenção à vida”.
Liz, quando pequena, não conseguia dormir sem antes ouvir as histórias contadas pela mãe, fossem bonitas ou feias, de princesas ou assombrações, porém, todas aguçavam a sua imaginação e dessa imaginação para o mundo dos sonhos, onde tudo era permitido. A mãe era uma mulher muito simples, livre, sem medos parecia um cântico de ninar envolvido nas ondas do mar. Seu rosto era notável, deveria ter vivido muitas existências e acumulado às experiências, pois somente uma pessoa como ela seria capaz de ter rompido tantas barreiras e, contudo, ver a vida passar em leveza, sem pressa e sem tropeços.
Eliana Hoenhe Pereira
eliana.hoenhe1@hotmail.com