Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo: 'O namoro para a constituição de família'
O namoro para a constituição de família
Associar S. Valentim ao dia dos namorados, ou vice-versa, é inevitável, porque o destaque que aqui se pretende dar, contempla o Santo e os Namorados (ou Enamorados), muito embora o fio condutor do tema, o núcleo central, o objetivo que se pretendem, apontem no sentido do amor, não necessariamente o “amor-paixão” que, eventualmente, será efémero.
Pensa-se ser muito importante, o amor que fundamenta uma amizade sólida, para toda a vida, entre duas pessoas que se gostam, se respeitam, se cuidam e comungam as alegrias e as tristezas, os sucessos e os fracassos, a cumplicidade, a confiança, a solidariedade e a lealdade, de resto, excelentes bases para um namoro que conduza, justamente, a um casamento feliz, se possível, para sempre.
Num breve resumo da vida de S. Valentim, resulta logo numa análise despretensiosa, sem qualquer manifestação elitista ou hagiográfica, que o padroeiro dos namorados é uma entidade santificada, muito popular e querida no seio da humanidade, independentemente do escalão etário de cada pessoa, porque nunca se é demasiado velho, nem muito novo, para as “coisas” do coração, que, quantas vezes, se sobrepõem à racionalidade calculista.
A história do “Padroeiro dos Namorados” resume-se, neste trabalho, ao seguinte: «Há muitos anos, o Imperador Cláudio pretendia reunir um grande exército pois queria aumentar o império romano. Mas nem todos os homens queriam alistar-se no exército porque já estavam cansados de tantas guerras e de estarem muito tempo sem as suas famílias.
O Imperador ficou furioso. Então teve uma ideia: se os homens não fossem casados, nada os impediria de ir para a guerra. Assim decretou que não seriam permitidos mais casamentos. Os jovens acharam aquela lei cruel e injusta.
Um sacerdote chamado Valentim, que também discordava da lei imposta pelo Imperador, decidiu realizar casamentos às escondidas. Uma noite, durante um desses casamentos secretos, ouviram-se passos. O casal que nesse momento estava a casar conseguiu fugir, mas o padre foi capturado.
Durante o seu cativeiro, jovens passavam pelas janelas da sua prisão e atiravam flores e mensagens onde diziam acreditar também no poder do amor. Entre os jovens que admiravam Valentim, encontrava-se a filha do carcereiro. O pai dela deixou que ela o visitasse na sua cela e ficavam horas a conversar. No dia da sua execução, Valentim deixou uma mensagem à sua amiga agradecendo a sua amizade e lealdade. Dizem que essa mensagem foi o início do costume de trocar mensagens de amizade no dia de São Valentim, celebrado no dia da sua morte, a 14 de fevereiro do ano 269.» (Disponível em http://www.cybertic.net/images/Hotpotatoes/respostatextos_multipla/saovalentim/saovalentimjogo1.htm 05.07.2018).
Namorar, amar, casar, estimar, cuidar, são atitudes e sentimentos que não têm idade, e ninguém pode provar que uma amizade, dita tardia, sentida, vivida, oferecida por uma pessoa sénior, seja menos intensa, menos verdadeira e menos sólida do que esse mesmo sentimento, experienciado aos vinte ou trinta anos porque, em boa verdade, há valores, sentimentos e emoções que vivenciados ao longo da vida, poderão ter exuberâncias, causas e consequências diferentes e, cientificamente, parece que ainda não há conclusões sobre qual a faixa etária, em que aquelas atitudes e sentimentos são mais autênticos e sólidos.
Partindo-se do princípio de que o namoro poderá ser um período de aprofundamento de uma amizade, ainda na sua fase embrionária, com o objetivo de estreitar o relacionamento, conhecimento mútuo do casal, projetos que serão comuns aos dois e, eventualmente, à união matrimonial, então será necessário que os futuros cônjuges se abram plenamente um ao outro, que confiem, que consolidem os seus propósitos, para estarem preparados para constituírem uma família, iniciarem uma vida a dois, com todas as responsabilidades inerentes.
O namoro, tendo por objetivo projetos sérios, de constituição de família, será bem diferente do namoro de ocasião, que visa apenas a conquista fácil, a posse e fruição do corpo, para prazeres erótico/sexuais, enquanto nenhuma das partes se saturar da outra, porque onde não existe amizade sincera, o amor, muito dificilmente, surgirá e vencerá.
Importa, por isso mesmo, nesta breve reflexão, dedicada, primeiramente, ao dia dos namorados, abordar o namoro na perspectiva de constituição de uma família honrada, respeitada, em que os futuros cônjuges, para além de se amarem, comportam-se com respeito, consideração, estima e confiança na fidelidade um do outro para, de seguida, abordar o namoro a partir de uma amizade sincera, que se transformará num expoente mais elevado.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
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