Neusa Bernado: 'O poder místico das mulheres'
O poder místico das mulheres
Há séculos, mulheres sábias ousaram deixar sua terra natal em busca de vida nova. Atravessaram o Atlântico acusadas de feitiçaria por cuidarem do próprio corpo com ervas. Nas aventureiras fugas portavam consigo a rica cultura milenar de um povo sofrido por intermináveis guerras e perseguições.
A viagem inusitada realizada em noites enluaradas seguia um ritual para não serem reconhecidas, pois segundo a tradição, todas as mulheres autônomas eram consideradas bruxas. Assim sendo, a comitiva deslocava-se de um lugar para outro durante as madrugadas, utilizando meios de locomoção rústicos: canoas, cavalos ou vassouras voadoras. Suas habilidades artísticas e intelectuais mantidas em segredo, somente reveladas em requintadas telas paisagísticas onde a vasta beleza natural e cenas cotidianas do litoral brasileiro exibiam-se em cores exuberantes.
Essas mulheres, pouco valorizadas utilizam o próprio poder místico para conquistar liberdade e evoluir na igualdade de direitos na sociedade. Participam da vida comunitária, estudam, ocupam espaços no mercado de trabalho, escrevem e exercem múltiplas funções. O saber transmitido por sucessivas gerações compõe o caldo cultural brasileiro onde seus costumes originários, entrelaçados aos dos indígenas, estão presentes no cotidiano, nas celebrações, ritos, manifestações culturais e artesanais. Em algumas regiões do litoral sul-brasileiro destacam-se: Renda de bilro, cerâmica, balaios, esteiras, cantos, rezas, benzeduras, cantoria do Divino, boi-de-mamão, terno de reis, etc.
A evolução tecnológica permite acessar acervos culturais e as variadas conquistas dessas guerreiras, donas de talento sobrenatural e resiliência; as mesmas que um dia foram consideradas viajantes fugitivas em suas vassouras bruxólicas. Apesar de muitos direitos serem adquiridos ao longo de séculos, cabe à sociedade a função de respeitar e ajudá-las para que possam avançar mais em igualdade e liberdade num mundo sem fronteiras.
Triunfo na perseverança
Sou mulher de combate altivo
Com estrelas a me guiar
Transmuto névoas do destino
Para proezas granjear.
Tenho fé e esperança
De meus sonhos acalantar
Triunfo na perseverança:
De colher o que eu plantar.
Em cada vitória que alcanço
Sigo na mesma conduta
Não me entrego ao cansaço
Nem ao peso da labuta.
By Neusa Bernado Coelho
Poetisa- Historiadora – Jornal Cultural Rol