Artigo de Pedro Novaes: 'Leitura e escrita'
Pedro Israel Novaes de Almeida: ‘LEITURA E ESCRITA’
Qualquer pessoa pode dizer algo impensado, ou dar um palpite desinformado. As palavras acabam anistiadas, mas as frases escritas são perpetuadas.
Na cultura popular, quem escreve uma opinião ou comentário torna-se escravo de seus escritos, devendo honrá-los pela eternidade. Falas são recebidas como reações emotivas, mas escritos são produtos de raciocínio e intenções manifestas.
Todo leitor é um juiz, e sentencia o artigo com base em experiências e impressões pessoais. Ao invés de concordar ou discordar do autor, vai logo concluindo que o autor concorda ou discorda dele.
O leitor, quando ativista partidário, ou mero refém ideológico, raramente consegue ler qualquer texto inteiro, se deparar-se com uma minúscula frase discordante de suas convicções. A colonização ideológica impede o livre fluxo de informações e ideias.
Articulistas deparam-se, vez ou outra, com censuras, veladas ou explícitas. A censura mais simpática diz respeito à possibilidade do artigo resultar em processo na Justiça, com o autor sendo instado a rever frases, tornando-as de difícil acionamento judicial.
Já a censura de sobrevivência trata da repercussão do texto, junto ao principal anunciante do jornal ou revista. No caso, compete ao autor decidir se o escrito compensa o sacrifício.
A única censura que já sofremos, e guardamos como honroso galardão, diz respeito a uma citação de Nossa Senhora da Aparecida, cujo dia coincide com o dia da Criança e do Engenheiro Agrônomo. O artigo acabou não publicado, pelo fato do nome da Santa ser improferível, naquela redação. Não sei o que aconteceria, se o principal anunciante resolvesse homenagear a Santa, em sua publicidade.
Aos que escrevem regularmente, aplica-se a circunstância da ocasião, e são comuns os artigos de carnaval, natal e datas comemorativas. Como ninguém é atraído por republicações, o bom velhinho surge conduzido por festivas renas, e acaba, no vigésimo artigo, ator de comercial, rodeado por veadinhos.
Todo articulista deve ter seu guru, leitor sincero, com opiniões acatadas, que critica ou elogia com a mesma desenvoltura e boa intenção. Afortunadamente, temos uma dezena de bons gurus.
Temos especial simpatia por escritos de poetas, arquitetos de palavras e sentimentos, e historiadores, incansáveis estudiosos e pesquisadores.
As novas gerações parecem haver perdido o encanto com a leitura e a familiaridade com a escrita. Existe uma séria crise no setor de publicações destinadas a crianças, e os adolescentes pouco encontram, nos livros, o dinamismo e pronta digestão ofertados à farta pelas redes sociais.
O vínculo das novas gerações com os escritos tende a ficar confinado ao ambiente escolar, e convém, aos docentes, bem selecionar as exigências de leitura, antes que percamos o liame da história e cultura. Pais, a maioria, já perderam a capacidade de incentivar a escrita e leitura, que hoje soam como castigo.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.