Márcio Castilho: 'O vago espaço para os abraços'

Márcio Castilho

O vago espaço para os abraços

Enquanto aqueço a água para

A infusão do chá de cidreira,

Ouço a chuva a quebrar o silêncio;

Enquanto do telhado cai a goteira,

Sinto a tarde abraçando a noite,

Mesmo que sem mãos e braços.

Ah, sim… Todo o dia

A tarde e a noite se abraçam na despedida,

Um abraço invisível que me faz lembrar

De tantos abraços que já abracei.

 

A tarde vai, a noite vem…

Enquanto daqui recordo de abraços

Que determinam tanto o que é ser humano,

Contemplo esse ósculo no crepúsculo,

Esse abraço molhado entremeado na chuva

Que resvala entre intangíveis braços abraçados,

Não mais invejo esse lusco-fusco periódico,

Pois sei que em breve hei de abraçar

Todos os abraços que a mim estão reservados.

 

Márcio Castilho

marciocastilho74@outlook.com