Marcus Hemerly: 'Náufrago'

Marcus Hemerly

Náufrago

No ventre amargo da reclusão imposta,
Renova o conhecido sentimento de aposta,
O jogar xadrez numa escura e revelha arena,
Com a face da insânia em quarentena.

 

Mais parece um exílio ou um naufrágio,
O recolher voluntário na ilha do Eu,
Donde se escuta o interior adágio,
Que sussurra o tempo que se perdeu.

 

Amolda-se a sentença de morte,
Agora que já se obscureceu até o norte,
Os lados são os mesmos em distância,
Frágeis como a primeira e longa infância.

 

É uma ilha sem água ou resto de areia,
O náufrago não avista mar ou sereia,
Não há palavra ou sentimento mútuo,
Há o temor mudo do cárcere perpétuo.

 

Marcus Hemerly

marcushemerly@gmail.com