Cláudia Lundgren: 'A metamorfose'
A metamorfose
Já agi como galinha. É sério! Prostrada, andava olhando para baixo, ciscando o chão, comendo migalhas. Eu tinha asas, é verdade. Mas não sabia ao certo a sua utilidade; apenas me adornavam.
Minha visão limitada não permitia que eu almejasse outros horizontes. Eu não tinha sonhos, metas. Era aquela vidinha medíocre: ciscar, andar pelos arredores do meu ‘galinheiro’, cercada.
Certo dia eu tomei consciência de quem eu era, e das minhas asas.
No fundo, eu tinha medo de voar. Como seria? Eu temia as quedas, temia ousar. Eu tinha medo de ser quem eu realmente era: uma ave.
Eu tentei. Muitas vezes falhei. No início, voava baixo a fim de sentir-me segura. Caí muitas vezes; me feri. Vieram as cicatrizes, os calos, mas eu não desistia, até que adquiri confiança em mim.
Saí do ‘galinheiro’. Eu almejava conhecer outros lugares além do meu reduto. Me senti livre, a fim de escolher para onde ir. Levantei meus olhos, olhei para cima.
Eu não me interessava mais por migalhas ou ciscar pelas beiradas. Provei outros alimentos. Eu não quis mais voltar.
Transformei-me em águia, mulher de opinião, de escolhas, de visão. Passei a decidir onde pousar e quando sair. Acostumei a viver assim, sem amarras, e deixei de aceitar qualquer coisa.
Claudia Lundgren
tiaclaudia05@gmail.com