Comendador Fabrício Santos: "Do caos visual à estética urbana da 'Street Art'"
“A estética do grafite é bastante associada ao hip-hop, uma forma de expressão artística que também surgiu nas ruas.” (Comendador Fabrício Santos)
A Arte Urbana (street art, em inglês) é um tipo de arte encontrada nos espaços urbanos. Os muros do Estádio Juscelino Kubitschek do município de Manhuaçu-MG, recebeu pela segunda vez o projeto temático da Arte Urbana do Graffiti coordenado por mim (Fabrício Santos) em dezembro de 2020 e produzidos pelos Grafiteiros Jessé, Miguel e Seres. As intervenções do Graffiti resultam de um entrosamento com o modo de vida urbano contemporâneo. O Graffiti e a pichação são formas de linguagem marcadas pela heterogeneidade e pela sobreposição e interpenetração de elementos, o que em certa medida é um reflexo do modo mesmo como ocorrem, isto é, em meio às mais variadas interseções sociais e sempre potencialmente abertos a novas interferências. A pichação é vista como um ato de vandalismo enquanto o Graffiti é uma forma de arte contemporânea de características essencialmente urbanas. São pinturas e desenhos feitos nos muros e paredes públicos.
A estética do grafite é bastante associada ao hip-hop, uma forma de expressão artística que também surgiu nas ruas. Já a pichação também resulta dos processos de vida no meio urbano que se difere pela sua proposição e sua propagação quase sempre anônima, é uma forma de expressão juvenil, fenômeno social que caminha com as mudanças da sociedade. Está presente em nossas cidades e vem se recriando com o passar dos anos. O pichador não tem ideal, não tem uma ideia sadia, quer ter moral entre seu grupo social, pegar fama, garotas e usar drogas, ou seja, a pichação resulta em grave potencialização do jovem para o mundo da criminalidade, violência, prostituição e drogas.
Nos anos de 2018 e 2019, tive o privilégio de ser professor da Oficina de Graffiti no Projeto de Estudos do Tempo Integral do Ensino Médio da Escola Estadual Maria de Lucca Pinto Coelho onde pude trabalhar e desenvolver a temática da técnica do Graffiti nos muros internos da escola. Pude trabalhar principalmente a diferença do Graffiti para a Pichação. Normalmente nas escolas, as medidas adotadas são punitivas e excludentes. Esse é um procedimento recorrente nas escolas públicas ao enfrentar situações e problemas em que as soluções são desconhecidas.
Com o projeto das aulas de Graffiti na Escola Estadual Maria de Lucca, os alunos foram levados a uma conscientização em relação ao vandalismo da pichação, e com isso a reflexão empreendida pela proposição de ação pedagógica de abordar o fato de existirem pichadores no ambiente escolar, discutir sobre a ocorrência da pichação e do Graffiti no contexto urbano, identificar as pichações e os Graffites, promovendo no alunado a percepção de seu espaço e as interferências visuais existentes, reconhecendo que estas são derivadas das suas inter-relações sociais.
O meu projeto temático da Arte Urbana do Graffiti que irei coordenar em vários muros do município e distritos de Manhuaçu, além de embelezar e dar uma nova estética de arte contemporânea na cidade se baseia em resgatar a autoestima dos jovens que se envolvem e se dedicam à pichação, buscando trilhar o caminho do convencimento, propondo como alternativa à pichação, o Graffiti Arte Urbana, como um processo educacional e de inclusão social. O projeto visa apropriar-se das habilidades preexistentes dos jovens a partir do uso do spray e trabalhar na motivação para o desenvolvimento de um processo de construção da cidadania individual e coletiva aproximando o jovem de habilidades artísticas.
Por Comendador Fabrício Santos – Professor de Artes e da Oficina da Art Urbana do Graffiti nas Escolas.
Comendador Fabrício Santos é Correspondente do Jornal ROL da cidade de Manhuaçu (MG)