Amanda Quintão: 'A poesia do Zé'
Arreda pra cá cambada, vamos ter um dediprosa?
Isturdia, eu ouvi alguém falá que quem é anarfabeto não pode fazer poesia.
Mas que bubiça é essa? Ê bagaça!
Desdiquando pra expressar sentimento pricisa de iscola?
Fio, poesia vem didento do coração da gente!
Quando ele tá pertaaado! Arroiado de coisa e pricisa colocá pra fora as emoções.
Os melhores poetas são os que são alunos na iscola da vida, di vera!
Oia! Vou contá um causo de amor pro cêis:
O Zé amava a Maria,
Queria iscrevê uma poesia prela,
Mas Zé não conhecia as letras.
As oportunidades são bem diferentes na roça, sabe?
Mas Zé amava muito Maria.
Quando a via o coração do matuto disparava, dava um fri na barriga e ele pensava : – Ê, lá em casa! Ô trem danado de bonito, uai!
O Zé não sabia iscrevê, mai sabia desenhá que era uma beleza!
Intonce, ele pegou uma caneta e fez um home, um coração e uma rosa…
Colocô num envelope junto com a foto dele e mandô um menino intregá prela.
Dispois, fez um home, um coração, uma muié e uma casinha…
Maria, intendeu tudim.
A poesia do Zé alegrou o coração da Maria que foi correndo lascar um beijo no home. O Zé ficou que é dente puro!
Maria também passou a amar o Zé da roça.
Inté hoje dizem que Maria é a poesia do Zé.
E o Zé a poesia de Maria.
E o desenho é o arfabeto dos dois…
Amanda Quintão
@amandaquintao_escritora