Artigo de Pedro Novaes: 'Voltando ao trabalho'
Pedro Israel Novaes de Almeida – VOLTANDO AO TRABALHO
Acabou o carnaval !
De quarta a domingo, é o período de concentração para o trabalho de segunda-feira, que por uma tragédia do destino não é feriado.
A TV aberta prepara a pauta dos próximos dias, quando o país retomará as cenas de nosso dia-a-dia, com os escândalos e privações de sempre.
O carnaval deixou de ser o reinado de Momo, e mais parece propaganda do Proálcool. É estranha a festa popular onde a tradição e a alegria são embaladas, na maioria das vezes, pelas bebidas vendidas e consumidas à farta.
Aquelas brincadeiras de outrora, com bisnagas e bexigas cheias de água, e salões repletos de confetes e serpentinas, ao som de marchinhas centenárias, parecem que já não existem.
Para os idosos, é preciso muita precisão na dosagem do copo. Se beber pouco, pula sem desenvoltura, e se exagerar na dose, dorme.
Aos que não festejaram o carnaval, a TV ofereceu pelo menos duas opções: a transmissão dos desfiles, animadíssimos quando a câmera era ligada, e as pregações dos canais religiosos.
O carnaval dita a moda. Mulheres de corpo bem torneado e homens exageradamente musculosos. É normal a confusão de imagens, e uns parecem os outros.
Nas escolas de samba, as homenagens e temas parecem encomendados, e dizem as más línguas que resultam de patrocínios. Parece existir mais busca de status que demonstração de espírito carnavalesco, em muitos dos que passam, sorridentes, na avenida.
Nenhuma vidente foi capaz de prever que, por todo o país, um japonês, aquele da Federal, seria tão lembrado e homenageado. Foi um carnaval econômico, pela diminuição de verbas e contenção de publicidades.
A crise, contudo, não esmoreceu a multidão de colaboradores anônimos, verdadeiros artistas que, ao longo do ano, produzem fantasias, adereços, carros alegóricos e muitos ensaios, que desaguam na avenida, encantando multidões.
Ainda existem, cada vez menos, alegrias e brincadeiras não etílicas, principalmente nos ritmos regionais, em rincões onde o espírito carnavalesco é mais espontâneo, e reina mesmo sem a transmissão pela mídia.
Já não somos o país do carnaval, assim como já não somos o país do futebol. Continuaremos, para sempre, sendo o país que cultua feriados, destina grande parte da poupança popular ao custeio de celulares, consome quantidades crescentes de bebidas alcoólicas, arrisca a sorte em loterias e ainda ri.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.