Artigo de Pedro Novaes: 'Poderosos'
Pedro Israel Novaes de Almeida: PODEROSOS
O poder não corrompe.
Na verdade, ele apenas permite a manifestação de um defeito já existente no indivíduo, ao tempo em que habitava a planície dos mortais. Não é agradável, mas convém ensinar aos filhos que a maioria das pessoas não dispõe das condições necessárias ao exercício de qualquer poder.
Existem poderosos desonestos, que utilizam o cargo ou condição para perpetuá-la, ou para o enriquecimento próprio ou de terceiros. Existem poderosos até honestos, que distribuem injustiças, prestigiando membros da sempre numerosa tribo dos subservientes, componentes do séquito que, inevitavelmente, parasita os arredores e meandros do poder.
Existem poderosos modestos, capazes de malversar o pequeno poder que possuem. Porteiros de ministérios podem ostentar mais poder que os ministros, e guardas municipais, pelo trato humano, podem transmitir a impressão de que são comandantes de tropas internacionais.
É um desafio erigir mais instituições que poderosos. Instituições sólidas estabilizam a vida dos povos, livrando-os dos repentes e personalismos dos poderosos.
As afirmações desnecessárias e desrespeitosas de poder costumam estar acompanhadas pelo menosprezo ao próximo, e são desastrosas quando ocorrem nos âmbitos policiais e forenses. A população, vítima contumaz de abuso de poder, chega a endeusar o médico plantonista, quando atencioso e solícito, assim como o delegado, juiz, policial ou promotor respeitadores da condição humana.
O bom desempenho do poder raramente pode ser ensinado, e depende mais das experiências da vida que de títulos ou currículos grandiosos. Um despreparado pode ser parcialmente lapidado e contido, mas sempre demonstrará sua selvageria e desrespeito, quando julgar ameaçado seu poder.
Na verdade, o poder sem liderança, exercido pelo simples emanar de ordens, pode gerar muito acatamento, mas pouca colaboração. Poderosos dedicados à perpétua afirmação de poder geram distanciamentos e animosidades pouco explicitadas.
Os ambientes escolar e bancário andam repletos de poderosos que geram insatisfações e desgastes desnecessários. Grandes empresas e órgãos cuidam de diagnosticar os relacionamentos internos, não raro identificando também o poderoso incapaz e receoso de uma só decisão.
As instituições são erigidas à base de muita transparência e participação. Funcionários de instituições sólidas negam-se ao cumprimento de ordens ilegais.
No Brasil, a ocupação partidária de órgãos e entidades públicas e o absurdo contingente de comissionados corroem instituições e desacredita o Estado, gerando um círculo vicioso que torna cada vez mais ineficiente e onerosa a máquina pública, federal, estadual e municipal.
Assim não dá !
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.