SÉRIE ENTREVISTAS ESPECIAIS: Nesta edição Rogério Sardella localiza e entrevista Moacir Oliveira
Por Onde Anda Moacyr Oliveira?
Ícone do rádio e até hoje lembrado por gerações, Moacyr Oliveira surpreende numa entrevista em que falou sobre muitas coisas, inclusive sobre sua passagem pelo seminário, vida política e a perda do filho Fábio Adriano
Por Rogério Sardela (*)
O jornal eletrônico ROL – REGIÃO ON LINE e a revista Top da Cidade apresentam, a partir desta edição, a série Por Onde Anda?, entrevistando personalidades que fizeram história em Itapetininga, como profissionais de imprensa, políticos e empresários.
Em tempos de redes sociais, não é difícil encontrar nomes para entrevistas, mas nem sempre é possível, já que existem aqueles que não possuem perfis na Internet, muitas
vezes por opção. Assim encontramos o entrevistado para a primeira edição do ano.
Após breve conversa pelo Facebook, ligamos para o número residencial e uma voz inconfundível atendeu o telefone: era o próprio Moacyr Oliveira, que escolheu como local da entrevista o Santuário Nossa Senhora Aparecida do Sul.
O tempo passou e apesar dos cabelos grisalhos, no alto de seus 67 anos, a voz que conquistou gerações continua a mesma.
Moacyr Antonio de Oliveira nasceu no município de Buri no dia 19 de setembro de 1947, vindo a residir com seus pais em Itapetininga quando tinha apenas dez meses de idade.
“Não sou de direito, mas sou de fato e também por congratulação da Câmara local com o Título de Cidadão Itapetiningano”, enfatiza o entrevistado.
Casado há 42 anos com Ana Maria Galdino de Oliveira, tiveram cinco filhos: Érica Cristina, Fábio Adriano (in memoriam), Renata Aparecida, José Mario e o caçula João Manoel, além de duas netas, Maria Eduarda e Ana Beatriz. “O Fábio Adriano está com Deus, mas continua vivo, então não digo que não está mais entre nós, pois continua sendo meu filho”.
Moacyr Oliveira lembra que a vida escolar começou na EE Adherbal de Paula Ferreira, onde cursou os primeiros quatro anos do antigo primário. “Minha mãe queria que eu fizesse curso profissionalizante e como havia a Escola Artesanal de Itapetininga, fiz a primeira e segunda séries juntamente com ajustagem mecânica.
O que muitos nem imaginam é que Moacyr Oliveira descobriu a vocação para o rádio através da vida religiosa, no Seminário Diocesano São Carlos Borromeu, de Sorocaba. “Eu achava que poderia me tornar padre”, lembra Moacyr, contando que havia um grupo de três ou quatro seminaristas que se preparava para a faculdade de Teologia, em Aparecida do Norte e durante os intervalos para refeições, esse grupo descontraia os demais improvisando programas jornalísticos, despertando seu interesse pela profissão. “Parecia que estava ouvindo uma estação de rádio. Meu sonho era fazer parte da equipe, só que eu não podia, pois eu era do ginasial. Era uma espécie de treinamento para ser orador”, recorda-se Moacyr, que ficou dois anos naquele seminário.
Com a saída do seminário, Moacyr continuou os estudos na EE Modesto Tavares de Lima e no Instituto Peixoto Gomide, onde neste último fez o curso normal. Após uma pausa de dois anos, concluiu o Ensino Superior em Letras na faculdade da família Ozi, que naquele tempo seria chamada de Universidade da Região Sudeste, como recorda o entrevistado.
Sim, Moacyr Oliveira chegou a lecionar em substituição por três meses e meio, numa classe que ele considerava “terrível”. A chegada em casa por volta de meia-noite e o pouco tempo para a família fizeram com que Moacyr deixasse as aulas e ficasse somente com a carreira de radialista.
Até conseguir seu espaço no rádio, Moacyr Oliveira fez muitos testes e embora tivesse talento reconhecido, a oportunidade demorou a acontecer.
Foi após assistir ao evento comemorativo do Jubileu de Prata da PRD-9 (Difusora), no então Cine Olana, com a presença da cantora Meire Pavão e de todos os locutores da emissora, que Moacyr resolveu procurar no dia seguinte os estúdios da mesma, quando então conversou com o diretor artístico, Pedrinho Marcondes, que lhe colocou em alguns testes e durante dois meses ficou exercitando, lendo textos comerciais, até que lhe falaram que não havia vaga, que quando surgisse o chamariam.
“É difícil de acreditar, na rádio me soltava, mas era extremamente tímido. Sou uma pessoa tímida”, revela Moacyr.
Persistente, ele não desistiu e seis meses depois, ouvindo a rádio, soube que estavam precisando de locutores. Mais uma vez não mediu esforços e desta vez fez um novo teste. Entre 30 candidatos, somente dois foram aprovados: ele e mais uma pessoa. Novos treinamentos ocorreram. O outro candidato acabou sendo contratado e Moacyr novamente aguardando. “Fiquei bravo”, disse o entrevistado, recordando-se que naquela época, por ser católico, ia muito à Aparecida do Norte. “Gostava de ver o pessoal da Rádio Aparecida fazendo o programa e resolvi fazer teste naquela emissora, que já era uma grande potência”, conta, comentando que o diretor artístico gostou de sua voz e o aconselhou a voltar para Itapetininga e que pedisse ao dono da rádio para ficar pelo menos um ano treinando, adquirindo experiência e que então o contratariam, para que Moacyr ficasse no “padrão” da Rádio Aparecida. O fator timidez mais uma vez foi lembrado. “O diretor me orientou para perder a timidez, soltar a voz, que se fosse para se basear antes de fazer o teste, não o teria realizado”, lembra.
De volta, procurou o diretor Alcides Rossi, para o qual contou sobre a conversa que tivera na rádio Aparecida e que se ele não acreditasse, que poderia telefonar para a pessoa e confirmar.
A situação começava a mudar e Rossi acabou oferecendo para Moacyr a oportunidade de entrar para a rádio como sonoplasta, trabalhando na função para programas de radialistas como Filisbino, Bruno Capuano, Fernando Leonel e também para os jornais da emissora, até que surgiu a oportunidade de comandar um programa nas noites de sábado, num horário que segundo ele, ninguém queria por acreditar que não dava audiência.
“Não me importava, porque queria fazer rádio. Então peguei o espaço, que era das 19h00 às 21h30, chamado Álbum da Juventude, com canções da Jovem Guarda, além de músicas italianas. “Graças a Deus o programa fez bastante sucesso e recebia muitas cartas, mesmo naquele horário.
A oportunidade de ter um programa diário surgiu quando uma locutora havia sido chamada para trabalhar em outra empresa, sendo Moacyr convidado a substituí-la.
“Houve uma troca. Ela ficou com o meu horário de sábado e eu com o dela, diariamente, das 16h00 às 18h00”, relembra o radialista, citando uma frase que ouvira de Alcides Rossi na ocasião: “apesar de eu não querer, você provou que tem jeito para o rádio”.
O programa continuou com o título de Álbum da Juventude e quando Moacyr achou que o formato estava esgotado, criou o Sequencia das Quatro (a cada quatro músicas mudava o estilo do programa). O resultado mais uma vez fora positivo. Mais tarde, um locutor que substituía o apresentador que lançou o programa Difusora Ás Suas Ordens (projeto de Moacyr), entrou em férias e nosso entrevistado ganhou a oportunidade que o consagraria de vez como uma das maiores vozes do rádio do Interior paulista e até mesmo do Brasil.
“Era uma grande responsabilidade o horário da manhã, ainda mais ter que manter a audiência do Filisbino”, enfatizou, acrescentando que “com o sucesso do programa matutino, o sr. Alcides Rossi passou a me ver com olhos diferentes, passando de recusador a admirador, falando que eu tinha futuro e que se continuasse desse jeito iria longe”.
Ao mesmo tempo que apresentava o programa, Moacyr não deixou a função de sonoplasta.
Por motivos que diz desconhecer, contou que o titular do programa acabou sendo dispensado. Após quatro ou cinco, em conversa com Rossi, pediu sua opinião para mudar o nome da atração para Programa Moacyr Oliveira, a exemplo de outros radialistas que levavam o próprio nome no título.
Assim, com direito a vinhetas especiais produzidas por uma gravadora da cidade de Ribeirão Preto, através do conhecido produtor musical Jairo Pires, entrava no ar no dia 01 de janeiro de 1969, o Programa Moacyr Oliveira, tornando-se um grande fenômeno do rádio em audiência e campeão de cartas.
“O Eli Correa dizia que recebia cinco mil cartas do Brasil e eu atingia esse número em Itapetininga, recebendo até 150 cartas por dia”, revelou Moacyr.
Questionado sobre um momento que o tenha marcado em sua passagem pelo rádio, Moacyr citou que havia um quadro em que revelava o significado dos sonhos. “Uma ouvinte de pseudônimo Mãe Preocupada escreveu para o programa dizendo que sonhara que ao entrar no quarto para dar um beijo de boa noite em sua filha, sem citar a idade, a mesma estava abraçada em uma boneca. Disse que possivelmente a filha estaria grávida e que não ficasse assustada”.
Moacyr lembra que dez dias depois uma senhora apareceu na rádio querendo conversar com ele, a qual literalmente apontou o dedo em seu nariz, brava pelo significado do sonho, dizendo-lhe que seria um absurdo sua filha estar grávida, que ela tinha apenas treze anos e meio (a menina estava ao lado da mãe). Moacyr orientou que a mãe levasse a filha a um médico, até mesmo para sanar sua preocupação e que depois de um ano aquela mãe retornara para falar com ele, acompanhada da menina, que carregada um bebê nos braços. “Fiquei de queixo caído… A senhora disse que eu estava certo…”, menciona Moacyr, que diz não acreditar em adivinhações. “A maioria era no chute”, entrega, inclusive sobre os horóscopos. “Vai da cabeça da pessoa. Infelizmente se você falar uma mentira no rádio e ficar repetindo, isso vai se tornar verdade”, salienta.
Aliado ao sucesso como radialista, a remuneração por seu trabalho era satisfatória. Moacyr Oliveira revela que chegou a ganhar em torno de 10 salários mínimos, além de outros dois salários de comissão especial, mas que com a crise do final da década de 1980, com inflação em alta, os vencimentos foram caindo cada vez mais, tendo o Alcides Rossi vendido a emissora e que a nova direção já não poderia manter os mesmos valores, caindo a remuneração do radialista para pouco mais de um salário mínimo.
Paralelamente, Moacyr Oliveira foi eleito vereador de Itapetininga em 1982, exercendo mandato até o final de 1988. “Não queria lançar mão de meu subsídio de vereador para o meu sustento e o de minha família. Não era para isso que eu entrei para a política. Eu precisava de um emprego que me garantisse a sobrevivência. O mandato estava acabando e eu não queria ser obrigado a tentar a reeleição”, comentou Moacyr, para o qual a política foi uma experiência altamente negativa. “Não gostei. Reeleição por interesse monetário não era o meu objetivo. Parti para outra. Vereador infelizmente não faz nada. É um salário maldito, queima no bolso, um subsídio que sabe que não merece, pois você luta, luta e há aqueles entraves lá dentro, que barravam boas ideias que tinha”
A esta altura a vontade de Moacyr era entrar numa estatal, “nem que para isso fosse preciso começar abrindo valeta”, relembra, enfatizando queria o melhor para a sua família.
Assim, em 28 de fevereiro de 1988 Moacyr Oliveira apresentou seu último programa e no dia 13 de abril do mesmo ano começou a trabalhar na Sabesp, onde poucos meses depois conseguia recuperar o que havia perdido e até mais. A aposentadoria aconteceu em 2002. “Aposentei como contribuinte do INSS e não como funcionário público”, deixa claro o entrevistado.
Sobre a política do País, Moacyr fala acreditar na explicação dos sacerdotes da Igreja Católica, que fazem um estudo geral da situação. “Há um esquema armado, dizem, no Brasil, via Rede Globo, para desestabilizar completamente o governo, que há um interesse internacional nisso. Em nível estadual acredito que o Alckmin está fazendo um governo razoável. Em Itapetininga o Hiram Ayres Monteiro Júnior vai ter que mostrar neste ano a boa vontade dentro dos limites orçamentários da Prefeitura que ele pode ser um bom administrador”.
E a Revista Top da Cidade perguntou: Por onde Anda Moacyr Oliveira?
O eterno radialista hoje é ministro extraordinário da Comunhão Eucarística da Paróquia Santuário Nossa Senhora Aparecida do Sul, e todas as sextas participa do programa Fé Católica, na Rádio Difusora, das 22h00 às 22h00.
Para finalizar, Moacyr deixa uma mensagem aos jovens: “acredito na juventude. Problemas de drogas e prostituição sempre existiram. Seguir o caminho que é certo depende muito dos pais. Religião em si não salva ninguém, mas ela indica o caminho. A pessoa vai até a Igreja por Jesus e não pelo padre ou pastor. A semente pode estar dormindo, mas um dia vai dar frutos”, finalizou.
(*) O autor é , Jornalista, MTB 0070270-SP