Senhor Bom Jesus do Livramento, a origem da Fé.
Na zona da mata Mineira, exatamente a cento e quarenta quilômetros de Juiz de Fora, está localizada Liberdade, uma pequena cidade interiorana, com aproximadamente cinco mil habitantes, que no mês de Setembro acolhe mais de sessenta mil romeiros, vindos de toda região do país. Não são turistas, mas Romeiros que buscam o fortalecimento da fé diante daquele grandioso movimento religioso.
O Jubileu do Senhor Bom Jesus do Livramento.
No período do jubileu, o ar de Liberdade muda, a fé invade e refortalece até mesmo os corações mais duros, não há como não afirmar que até mesmo fieis de outras doutrinas não absorve aquele movimento de fé Cristã. Para terem uma ideia do que é este movimento, vos trago um pouco da história do surgimento da imagem do Senhor Bom Jesus do Livramento.
Os mais antigos anciãos do município nos contaram esta história, que seus pais lhes contaram e que por sua vez, os pais de seus pais lhes contaram, e assim por algumas gerações. Pois a história dessa imagem data com mais de duzentos anos.
No início Liberdade ainda não tinha este nome, era conhecido por Livramento, um pequeno distrito ainda pertencente ao município de Baependi. Nos primórdios daquele período, houve um grande incêndio que alastrou plantações e matas nativas inteiras, não deixando quase nada em pé. No arraial da Vargem, numa devassidão coberta de fuligem de cinzas a única árvore virtuosa que salvou daquele incêndio, foi um pé de cedro, o cedro do milagre que ficou frondoso na devassidão de cinzas. O cedro, o início da lenda, o início dos milagres a escolha.
Assim começa a sua história:
A origem da imagem encontra registro apenas em lendas contadas pelos habitantes da cidade, e do pedaço do tronco do cedro, que ainda enraizado na terra e na lenda, se tornou o altar mor da pequena capela que nasceu naquele descampado, tornando-se um vilarejo e receberia o nome de Vargem da Imagem.
Segundo esta lenda, apareceu no povoado, um velho peregrino disposto a fazer a imagem de Bom Jesus, satisfazendo o desejo dos moradores.
Esse peregrino solicitou apenas algumas ferramentas, um pedaço de madeira para talhar a imagem, e um compartimento fechado onde pudesse trabalhar sozinho. Ele trabalharia de portas fechadas e só abriria a porta para receber alimentação, pois aquele senhor metódico e sistemático só apresentaria a imagem depois de pronta.
Entre os habitantes foi um presente aquela oferta, muitos não viam a hora de ter uma imagem que recordasse sua fé, para outros nem tanto, pois muitos não acreditaram que um senhor de idade tão avançada e com corpo franzino fosse capaz de tamanha façanha.
Mas ao peregrino, os habitantes do vilarejo de Livramento resolveram dar a chance do feito, afinal ele tinha a idade de ancião, e provavelmente saberia o que estava falando.
Com tudo arrumado e combinado, faltava a matéria-prima, uma madeira macia e fácil para talhar a imagem, foi então que todos lembraram do cedro milagroso, e nada mais que justo dar um final nobre à árvore.
A madeira foi cortada e levada para um barracão que servia de paiol. Ali aquele senhor foi condicionado ao lado das ferramentas e do tronco do cedro e foi posto uma cama para o descanso do peregrino.
Os dias passaram e no inicio o peregrino recebia as atenções e as alimentações necessárias para sua sobrevivência. Mas quis o destino ou o poder de Deus, fazer com que todos esquecessem o peregrino escultor, deixando à mercê da sorte e da fome.
Como um relâmpago de lembranças, aquela amnésia coletiva se perdeu e a lembrança do peregrino escultor voltou com toda força entre os moradores de Livramento. Ocasionando uma comoção geral, sentimento de dó e preocupação entre os moradores.
Sem perder mais tempo, os populares foram ao paiol que estava aquele senhor e começaram por ele chamar, sem obter nenhuma resposta, tudo lá dentro era silêncio.
A presença da morte estava próxima, o cochicho “ele está morto, ele está morto”, tomou conta daquele pedaço de chão.
Algumas pessoas que lá estavam resolveram olhar por entre as frestas do paiol, e se assustaram, pois era certo que aquele senhor não estava lá, porém no meio do paiol era visível a presença de um jovem senhor, seminu, com aproximadamente dois metros de altura.
Todos pediam para ele abrir a porta, porém inerte aos pedidos, aquele jovem senhor não se movia um milímetro se quer.
Talvez fosse uma reação movida pelo medo, o medo de estar no local que não lhe pertencia.
Depois de muito chamar e não obter nenhuma resposta, ficando claro que não tinha nenhum indício da presença do velho peregrino, e ao contrário, era certo que ali acuado só estava àquele jovem senhor, os moradores do povoado resolveram arrombar a porta do paiol, pois ela estava trancada por dentro.
Ao pôr a porta ao chão, o espanto e a comoção foi geral entre os presentes, muitos choraram ao reconhecer aquele jovem que ali estava e outros se prostraram ao chão em oração. O milagre foi concebido em Livramento.
Todos esperavam encontrar aquele idoso senhor ali morto, porém não tinha nem vestígio dele. As poucas ferramentas que ele solicitou para talhar uma imagem estavam no chão do paiol. E aquele jovem senhor, era o milagre em vida.
Aquele vulto inerte aos pedidos feitos anteriormente para abrir a porta, era o presente de Deus ao povoado de Livramento. Pois se tratava da Imagem com tamanho natural de Jesus Cristo em seu flagelo, a imagem da recordação, a imagem da fé, o milagre entre os homens.
Seus detalhes talhados na imagem surpreenderam a todos, e surpreende até aos dias de hoje.
A imagem é o tamanho da perfeição, e muito perguntam até hoje como pode um idoso talhar um tronco com mais de duzentos quilos com tamanha originalidade, levando em consideração que suas ferramentas eram arcaicas e ultrapassadas, e o mistério maior, como o velho escultor pintou a imagem com as cores naturais humanas, se não tinha este material com ele, além de cada gota de sangue ser formado por um pequeno rubi.
Toda esta riqueza de detalhes, o sumiço do velho escultor, além da porta que estava cerrada por dentro, foi dando a origem ao mistério, origem da história.
E até hoje corre a lenda pela região, que o escultor da imagem só poderia ser o carpinteiro José, pai de Jesus Cristo.
Como se tantas histórias não fossem suficientes para dar base ao mistério da imagem, algumas pessoas maliciosas e sem respeito a fé, furtaram algumas pedras de rubi, porém no lugar que o rubi foi surrupiado ao invés de ficar a marca da madeira raspada como em qualquer obra de arte, no local da retirada da pedra se criou uma pequena crosta, como se o ferimento se regenerasse cobrindo com a cicatrização comum aos homens.
E mesmo hoje com a evolução da ciência, se descobriram que a imagem não poderia durar tanto tempo assim sem se romper, pois pela posição de seus pés, que se encontram esculpida na posição de contra passo, o ponto de gravidade da imagem não possui um vértice sólido, deixando assim todo o peso da imagem em uma superfície menor que oitenta centímetros quadrados.
Este é o mistério da fé, a lenda da imagem, o folclore, ou a história do milagre de Deus naquele vilarejo.
Hoje a cidade mudou o nome por convenções políticas da emancipação, recebendo assim o nome de Liberdade em homenagem à praça da liberdade da Capital Mineira, pedido feito pelo governador da época.
Porém leva na imagem sua origem matriarcal e, no povoado da Vargem da Imagem as raízes da fé.
Esta história foi percorrendo gerações e territórios, os milagres pela fé humana a Cristo foram surgindo aos milhares, e aproximadamente duzentos anos após o feito, a fé daquela cidade fica inabalada.
Como dizer que apenas uma religião nos leva ao reino dos céus, diante deste movimento de fé?
Convido a todos a conhecerem a Liberdade e participarem da grandiosa festa do Jubileu do Senhor Bom Jesus do Livramento, que acontece todos os anos no dia quatorze de setembro.
Obs: Diante da pandemia que assola o mundo, talvez este ano seja o segundo ano de toda a história de mistérios e bênçãos, de fé e recebimento, que não haverá a romaria de luzes na procissão do dia quatorze. Aos romeiros, peço que entre em contato com o Santuário Basílica do Senhor Bom Jesus do Livramento.
Leandro Campos Alves