Sergio Diniz da Costa: 'A disciplina que eu amaria lecionar'

Sergio Diniz

“A ‘sala de aula’ seria num templo. O Templo da Natureza. (…) E, ouvindo músicas sublimes, todos passaríamos minutos eternos apreciando flores e árvores, nuvens e estrelas.”

Durante um breve período de tempo tive a oportunidade de lecionar no Ensino Superior. Ministrei aulas de Direito do Trabalho, Linguagem Jurídica e Humanidades.

Apesar de as duas últimas disciplinas, em particular, proporcionarem um campo de interação muito profícuo com os alunos, em termos de reflexões éticas e filosóficas, porém ainda se enquadram no sistema educacional tradicional, onde se deve “medir” os conhecimentos auferidos pelo educandos. E, decorrente disso, se o aluno não alcança a nota mínima determinada, pura e simplesmente não passa de ano.

Na minha experiência em sala de aula procurei ao máximo mostrar aos alunos que a maior recompensa pelo estudo não é alcançar a nota máxima, mas sim o maior prazer pelo aprendizado em si. Pra mim, o aprendizado deve ser lúdico. E, acima de tudo, mágico!

E sob esta visão, a disciplina que eu amaria ministrar é uma disciplina que, infelizmente, ainda não existe em nenhuma grade escolar. E, por ainda não existir, eu a batizei de “Disciplina do Sentir”. E seria uma matéria preparatória para todas as outras. E de todas as áreas do conhecimento humano.

Nessa matéria não haveria qualquer forma de avaliação. E ninguém seria reprovado.

A “sala de aula” seria num templo. O Templo da Natureza. E as aulas seriam, em alguns dias, pela manhã, e em outros, à noite. E, ouvindo músicas sublimes, todos passaríamos minutos eternos apreciando flores e árvores, nuvens e estrelas. Sentaríamos ou deitaríamos sobre a relva macia, fecharíamos os olhos e permitiríamos que nossas almas enxergassem e sentissem tudo com seus próprios sentidos. Sentissem o frescor e o aroma do vento ou mesmo da chuva; escutassem o farfalhar das árvores em seus misteriosos colóquios. E o canto dos pássaros, saudando a vida.

Dançaríamos, também. Dançaríamos a Dança da Alma Liberta, com seus graciosos voluteios.

E ao passar dos dias e dos meses, chegando ao final do curso, acabaríamos por perceber que não haveria mais distinção entre mestre e alunos, mas tão somente um sentimento de união, quando então entenderíamos que o aprendizado é, acima de tudo, um maravilhoso processo de descobertas; de descobertas de si mesmo, dos outros, da vida.

E nesse momento mágico e transcendente, os futuros médicos ou juízes não se sentiriam deuses, acima dos homens, mas sentiriam Deus guiando suas mãos e decisões. Os futuros engenheiros não projetariam apenas pontes de concreto, mas, sobretudo, pontes de união. Os futuros políticos compreenderiam que governam ou legislam, como se agricultores fossem, semeando sementes de bem-estar comunitário. Os futuros advogados entenderiam que a maior soma de honorários a receber é a soma da paz social. E os futuros professores relembrariam que todas as demais profissões dependem de um professor.

A Disciplina do Sentir parece um sonho, um devaneio, uma utopia. E talvez o seja. O maior e o mais belo sonho que um sonhador pode sonhar. Permitam-me, porém, sonhá-lo! Mas, se puderem, sonhem comigo!

 

Sergio Diniz da Costa  – sergiodiniz.costa2014@gmail.com