Marcelo Augusto Paiva Pereira: 'As Torres Gêmeas e o Modernismo'

Marcelo Paiva Pereira

As Torres Gêmeas e o Modernismo

O atentado terrorista ocorrido aos 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos da América causou a morte de 2.977 pessoas e a destruição parcial do Pentágono (em Washington) e total das torres gêmeas do World Trade Center (em Nova York). Elas, entretanto, eram mais do que marcos da hegemonia econômica daquele país. Também foram da arquitetura modernista, cujo projeto era do arquiteto Minoru Yamasaky (1912 – 1986).

Anos antes referido arquiteto projetou o conjunto habitacional de Pruitt-Igoe (1952-72), construído ao norte de Saint Louis, Missouri, para atender à política social do governo federal de retirar as famílias das favelas e cortiços e integra-los no ambiente urbano com infraestrutura consolidada.

O conjunto habitacional era formado de trinta e três edifícios de onze andares e totalizavam 2.870 apartamentos para acolher 12.000 pessoas de famílias selecionadas pelos assistentes sociais. A má administração do condomínio, a falta de recursos e a mudança da classe média, do centro para o subúrbio, destinaram-no ao fracasso social e à falência.

Traficantes e usuários de drogas invadiram os apartamentos abandonados e a violência conduziu esse lugar; os moradores que ainda lá viviam corriam sérios riscos à vida, à saúde e ao patrimônio, e eram impedidas de entrar a polícia, os bombeiros e as ambulâncias. Em 1972 foi demolido o primeiro dos edifícios e em 1976 o último.

A execução do projeto das torres do World Trade Center foi iniciada em 1966 e concluída em 1973. De arquitetura modernista e com alturas aproximadas de 420 m, serviram de referência à ilha de Manhattan, alteraram o “skyline” de Nova York, simbolizaram o poder econômico e também, mesmo indiretamente, o estilo de vida americano representado pela arquitetura que as configuravam.

Havia um enlace entre o modo de vida americano e a arquitetura modernista naquele país, cujos projetos de Minoru Yamasaky estavam inseridos. Aquele período foi de hegemonia da arquitetura modernista e do poder político, econômico e militar americano sobre o mundo.

Frank Lloyd Wright foi o arquiteto que, ao final do século XIX, apresentou o modernismo aos seus compatriotas, com o inicial estilo “Prairie”. A Segunda Guerra Mundial (1939-45) fez vários membros da Bauhaus – escola alemã de artes e ofícios – fugirem para os Estados Unidos da América. Ludwig Mies van der Rohe foi um deles e lá desenvolveu o modernismo. O edifício sede da Seagram (1954-58), em Nova York, é um de seus mais famosos projetos.

Muito mais do que se testemunhou, o infortúnio que acometeu o World Trade Center – e antes dele Pruitt-Igoe – parece ter decretado o fim do sucesso arquitetônico dessas obras do aludido arquiteto, destruídas por causas externas, como se estivessem predestinadas. Quanto ao modernismo, há divergências em relação à continuidade: Charles Jenks afirmou que acabou junto ao fracasso de Pruitt-Igoe; outros ainda afirmam que se protrai pelo tempo. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira.

arquiteto e urbanista