Artigo de Celso Lungaretti: 'NEM MESMO COM A CORDA NO PESCOÇO DILMA OUSA INVOCAR A LUTA DE CLASSES'

Celso Lungaretti, no blogue Náufrago da Utopia – DILMA QUER QUE OS BRASILEIROS PADEÇAM EM NOME DO SEU SAGRADO DIREITO DE CONTINUAR À DERIVA

 

Governos que nos cabe defender com unhas e dentes são os revolucionários. Como os petistas não o foram em um instante sequer e a revolução brasileira continua tão distante hoje quanto estava no dia 1º de janeiro de 2003, fico pasmo com a histeria e as mentiras cabeludas que estão sendo utilizadas para tentar manter Dilma Rousseff no cargo.

O poeta Ferreira Gullar matou a cobra e mostrou o pau:

Quem viveu no Brasil dos anos de 1960 aos 80 sabe muito bem o que é golpe e o que não é democracia.

Os militares golpistas de 1964 não propuseram que o Congresso votasse o impeachment do então presidente João Goulart. Simplesmente puseram os tanques na rua, fecharam o Congresso e entregaram o governo a um general.

Os que teimaram em defender a democracia foram simplesmente encarcerados e muitos deles assassinados. Os meios de comunicação foram censurados, de modo que nenhuma palavra contra o golpe podia ser veiculada.

…Dilma, (…) experimentou na carne o que é golpe e o que é ditadura. Não obstante, está agora representando um papel que lamentavelmente não condiz com seu passado.

Tudo leva a crer que a presidente será afastada, simplesmente porque não consegue governar há 15 meses e 11 dias nem dá nenhuma mostra de saber como tirar a economia brasileira do fundo do poço para o qual ela a despachou.

“Quero porque quero!” é fala de criança mimada e Dilma até agora não conseguiu desencavar uma única justificativa aceitável para o prosseguimento do seu desastroso governo, um único motivo para acreditarmos que as coisas melhorarão adiante. Mantém sua luta no terreno do legalismo e do embuste, pois nem com a corda no pescoço ousa invocar a luta de classes.

Reelegeu-se sem programa e quer que os brasileiros padeçam em nome do seu sagrado direito de continuar à deriva, trocando de orientação ideológica como de sapatos, ora tentando ressuscitar o nacional-desenvolvimentismo da década de 1950, ora guinando para o extremo oposto e adotando o neoliberalismo de Milton Friedman. Enquanto isto, milhões de coitadezas vão sendo despejados insensivelmente na rua da amargura.

O Brasil não vai acabar com a aprovação do impeachment pelo Congresso Nacional, a cassação da chapa presidencial pelo TSE ou a renúncia da presidente, mas a insistência em prolongar uma situação insustentável poderá levar de roldão nossa democracia, a tanto custo reconquistada.

O PT destruiu nosso presente, ao abandonar a bandeira de uma transformação em profundidade deste país que está entre os mais desiguais e injustos do planeta; e ameaça detonar também nosso futuro, pois não se sabe o que poderá resultar da depressão econômica e da convulsão social para os quais nos encaminhamos.

 

PARA A ESQUERDA REVOLUCIONÁRIA, HEGEMONIA DO PT
FOI PIOR DO QUE PRAGA DE GAFANHOTOS.


Por Celso Lungaretti, no blogue Náufrago da Utopia
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Durante os intermináveis 21 anos da ditadura militar, consolava-nos tanto o pensamento de que o pesadelo terminaria um dia quanto a percepção de nossa superioridade intelectual e moral sobre aqueles que só tinham como trunfos a força bruta e o poder econômico de seus amos.

Éramos os bons, eles os maus. Éramos os civilizados, eles os incultos. Éramos os idealistas, eles os mercenários. Éramos os solidários, eles os impiedosos. Éramos os honestos, eles os podres. Éramos os brilhantes, eles os medíocres.

Estas certezas nos reconfortavam, enquanto víamos o tempo passar sem proveito, anos e anos indo para o ralo num Brasil manietado e amordaçado.

As liberdades básicas de uma democracia burguesa, eu só as conheci de verdade aos 34 anos, pois até os 13 estavam distantes das minhas preocupações e em seguida vieram as duas décadas de ordem unida e paz dos cemitérios.

Quando os horizontes maiores da vida social começaram a me interessar, o que havia era medo, restrições e enganações. Foi por se chocar com tantos bloqueios e terrenos minados que a geração 68 teve de afirmar-se pelo arrojo e inconformismo. Ou seríamos rebeldes, ou abúlicos. Escolhemos a rebeldia.

E o outro dia finalmente chegou. Saímos da ditadura ansiosos por recuperar o tempo perdido, lançando-nos de imediato à luta por um Brasil com liberdade e justiça social.

O Partido dos Trabalhadores nasceu para ser o artífice do futuro há tanto sonhado, o principal instrumento da concretização de nossos ideais. E fracassou miseravelmente.

Trocou a bandeira da justiça social pela de pequenas melhoras nas condições de vida dos coitadezas, sem que sequer fosse reduzida a escandalosa desigualdade entre explorados e exploradores, pois o momento auspicioso da economia brasileira permitia-lhe dar, simultaneamente, um tantinho a mais para os primeiros e a parte do leão para os segundos.

Os militantes abnegados, cuja influência nos rumos do partido se queria reduzir cada vez mais, sentiram-se desestimulados e foram debandando. Assim como os trabalhadores, ao invés de sujeitos da História, foram cada vez mais reduzidos a eleitores lembrados de dois em dois anos e esquecidos no restante do tempo.

O PT passou então a escorar-se nos serviçais remunerados, que fazem da causa profissão e atraem a hostilidade do povão por estarem pendurados nos cabides de empregos governamentais ou serem beneficiários de verbas públicas sob infinitos pretextos.

A moral revolucionária foi trocada pela moral de conveniência, “se os tucanos fazem, por que não podemos fazer também?”. O partido que se propunha a extirpar a podridão da política oficial acabou chafurdando também na lama e na merda, a ponto de hoje ser visto pelo cidadão comum como farinha do mesmo saco.

 

A defesa dos direitos humanos passou a ser a última das prioridades do partido, principalmente em razão da promiscuidade com alguns ditadores psicopatas, aos quais tudo se justificava e desculpava (neste sentido, ordenou-se à rede chapa branca que satanizasse organizações sérias como a Anistia Internacional, cujos relatórios escancaravam a nudez desses tiranetes bestiais).

O internacionalismo revolucionário cedeu lugar à mais tosca e amoral geopolítica, ao apoio cínico a qualquer antagonista dos EUA, Israel ou Europa, por pior que fosse na ótica marxista. Aliás, o velho barbudo vomitaria se presenciasse a lua de mel entre ditos esquerdistas e os mais odiosos regimes teocráticos/genocidas.

Pior: o PT passou a ter como razão de ser a própria sobrevivência e a manutenção/expansão de seu quinhão de poder dentro da sociedade capitalista, relegando a plano muito inferior os interesses dos trabalhadores. Assim, chegou ao cúmulo de aderir ao neoliberalismo em 2015, encampando de um momento para outro a desumanidade das propostas de Milton Friedman, depois de passar décadas criticando-as.

  1. last but not least, fez de Goebbels o guia genial de sua propaganda enganosa, mentindo descaradamente e estimulando seus seguidores a mentirem na cara dura, como quando tenta fazer impeachment passar por golpe, martelando mil vezes tal falácia até o rótulo colar.

A verdade deixa de ser revolucionária, passa a ser utilitária. E a superioridade moral dá lugar à participação, em condição de igualdade, na grande confraria brazuca dos mentirosos, manipuladores e oportunistas.

Levamos quatro anos para superar o descrédito que a rendição sem luta de 1964 nos acarretou. Quantos serão agora necessários para reconquistarmos a confiança do nosso povo, depois desta verdadeira praga de gafanhotos que devastou a esquerda brasileira?

 

 

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