Artigo de Celso Lungaretti: 'NOVAS 'DIRETAS JÁ' SÃO A ÚNICA ESPERANÇA QUE RESTA'
Celso Lungaretti: O DOMINGO DO IMPEACHMENT JÁ É HISTÓRIA. O QUE FAZERMOS AGORA?
O DOMINGO DO IMPEACHMENT JÁ É HISTÓRIA. O QUE FAZERMOS AGORA?
Por Celso Lungaretti, no blogue Náufrago da Utopia.
Herói fortuito, o tucano Bruno Araújo deu o 342º voto. |
O domingo do impeachment já é História. Vamos olhar para a frente, caso contrário viraremos estátuas de sal (ou, em versão atualizada, nos tornaremos irrelevantes…).
São favas contadas que em maio o Senado, por maioria simples, aceitará receber o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, afastando-a do cargo. Michel Temer assume.
E de nada adianta acalentarmos esperanças de que a moeda, da próxima vez, vá cair em pé: ela não reassumirá a presidência, inocentada, depois de 180 dias. Se Dilma sair, não volta mais.
Com a insensibilidade habitual, o PT ainda tenta puxar a brasa para sua sardinha: cogita propor o encurtamento do mandato de Dilma e a antecipação da eleição presidencial, de forma a coincidir com as municipais.
Previsível manchete garrafal |
Parece ignorar que foi fragorosamente derrotado e os vencedores não têm motivo nenhum para deixarem a caneta presidencial nas mãos de Dilma até 31 de dezembro. Preferirão, obviamente, arrancá-la das mãos dela no mês que vem.
Então, se querem mesmo fazer uma tentativa de forçarem, in extremis, a realização de uma nova eleição presidencial –indiscutivelmente a melhor solução quando quem governa não tem as mais remotas condições de continuar governando e ao vice falta credibilidade para unir o País num momento dramático–, os grãos petistas terão de seguir o roteiro que eu propus, o único viável:
- renúncia imediata de Dilma, conclamando o Temer a fazer o mesmo, pelo bem do povo brasileiro;
- lançamento imediato da campanha pelas diretas já de 2016.
Não é momento de poupar melindres a Dilma, nem de tomar iniciativas que darão em nada, pois os antagonistas certamente as pulverizarão no Congresso (caso da Proposta de Emenda Constitucional concedendo mais oito meses de mandato a uma presidente que já não é capaz de aguentar nem outras oito semanas no cargo).
Ainda dá para virarmos o jogo. Mas, como ensinavam os magos, para obtermos grandes dádivas precisamos fazer grandes sacrifícios. Nada vem de mão beijada –muito menos depois de um desastre político como o do domingo do impeachment.
LEMBRANDO O HEROÍSMO DO PASSADO EM MEIO AO DESALENTO DO PRESENTE.
Não poderia ser mais emblemática a data do lançamento paulista de O problema é ter medo do medo (Editora Revan, 2016, 300p), da jornalista Ana Helena Tavares, um dia depois da pior derrota sofrida pela esquerda brasileira desde a redemocratização. Será nesta 2ª feira (18), a partir das 19h, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (R. Rego Freitas, 530, sobreloja).
Trata-se de uma coleção de depoimentos de pessoas que desempenharam algum papel na luta contra a ditadura militar, reconstituindo a História a partir de visões de quem estava no centro dos acontecimentos.
Foram 26 os entrevistados, inclusive eu. Particularmente, li com muita atenção os tópicos referentes a Alberto Dines, Hélio Bicudo e Sérgio Ricardo, com os quais me identifico mais. Mas, há de tudo um pouco e os leitores certamente tomarão conhecimento de muitos detalhes interessantes do passado.
Uma das principais preocupações de Ana Helena foi questionar o simulacro de anistia que igualou os torturados a seus algozes.
A entrevistadora com um dos entrevistados |
Trata-se de uma aberração jurídica que nos indignou muito nos últimos anos, mas a presidente Dilma Rousseff fulminou a última esperança de vermos punidas tais bestas-feras, ao ignorar olimpicamente o veredicto da Corte Interamericana de Direitos Humanos relativo à guerrilha do Araguaia, preferindo instituir uma Comissão da Verdade que desempenhou uma função nada além de propagandística.
Espero que, apeada do poder, Dilma reflita sobre se valeu a pena fazer tantas concessões ao realismo político, conciliando de forma tão chocante com os inimigos de ontem… em troca, vê-se agora, de nada!
E o livro é ótimo para evocar uma esquerda que soube enfrentar com muita coragem e dignidade o festival de horrores dos anos de chumbo.
Mas que, infelizmente, distorceu-se de forma acentuada a partir de 2003, quando passou a gerenciar o capitalismo para os capitalistas e ficou tão deslumbrada com o novo status que abdicou de organizar os trabalhadores e fazer avançar a revolução, temendo assustar ou incomodar os companheiros de fraque e cartola. Esses que agora a mandaram às urtigas.
E o pior foi que as ruas não a perdoaram.