Rejane Nascimento: 'Interfaces da Psicologia e da poesia'

Rejane Nascimento

Interfaces da Psicologia e da poesia

Aprendemos todos os dias que campos diferentes de saberes encontram-se e por vezes completam-se, trazendo um crescimento para humanidade. Todavia, lidamos com os “saberes específicos” e quando fechamo-nos a um único saber, reduzimos as possibilidades que resultariam em crescimento. Neste contexto, vamos expor um pouco sobre a Psicologia e a poesia.

Quando paramos para pensar sobre a poesia e seu significado, compreendemos que vai muito além de um texto lírico normalmente em versos; busca mais do que uma combinação estética de palavras, uma vez que, para quem a escreve, os significados são grandiosos e cheios de “sensibilidade”. A Poesia oferece ao poeta uma liberdade inigualável. O poeta através da poesia pode gritar usando o silêncio, dizer alegremente sobre a dor; com o ódio, falar de amor e por vezes, imerso na própria escuridão, discursa sobre a claridade; isto oferece ao poeta uma oportunidade de encontrar a sua luz. A poesia apresenta o humano em suas variantes claras e obscuras, serenas ou não, e, é  neste ponto, que temos um admirável encontro com a Psicologia.

A Psicologia vai além de tratar psicopatologias; é um espaço para o desenvolvimento humano com fidelidade á realidade que se propõe estudar e intervir; busca a modificação de fatos que impede o crescimento do sujeito, ou seja, abrange um leque de conhecimentos e oferece ao psicólogo a liberdade para complementar suas intervenções com uma “ferramenta terapêutica” denominada “criatividade”.

Quando falamos da criatividade, afirmamos que a poesia pode ser utilizada como um instrumento terapêutico. Ao assumir esta função, textos poéticos são criados de acordo com a necessidade da intervenção, deixando margem para construção de uma resposta mais assertiva pelo sujeito e acarretando um movimento daquilo que estava estagnado.

A proximidade entre a Psicologia e a poesia envolve elementos afetuosos, cognitivos, inesperados e mutáveis, pois as poesias são ativas e a psicologia busca compreender a dinâmica do sujeito, para uma efetividade na intervenção. Falamos sobre visualizar a alma humana para além de teorias e técnicas. Na Psicologia, Jung nos disse sobre a capacidade do humano de dar sentido às experiências, sejam positivas ou negativas, destrutivas ou transformadoras. Na literatura, Quintana, prefere não definir poema.

Percebemos pontos de encontro entre a poesia e a Psicologia.  Na Psicologia, a completude do ser está na inconstância, ou seja, para haver um ser construtivo, este deve ser passível de desordens em determinados momentos e de adaptação em diferentes circunstâncias, na busca de um  ponto de equilíbrio que resulta na transformação.

A poesia oferece ao poeta liberdade para escrever o que sente; esta liberdade traz para a poesia uma característica única, onde o primordial na escrita não são as regras ditadas, mas a expressão do ser;  porém é necessária uma harmonia, uma musicalidade oferecida muitas vezes pelas rimas.

Afirmamos o entrelaçamento da Psicologia e da poesia, quando percebemos em ambas a busca de equilíbrio e harmonia; mas não necessariamente permanecem fixas neste lugar, pois constituem, em suas  essências, a natureza do ser, ou seja, expressam realidades vivas que constroem os cenários da mente e carreiam o conhecimento e a liberdade de ser.

Finalizo este texto com uma poema que expõe os lugares diferentes que a Psicologia e a poesia ocupam, e,  ao mesmo tempo um lugar de encontro.

 

Psicologia e poesia

Poesia usa palavras que vêm do coração,

Psicologia usa a palavra como solução,

Poesia tira a amargura,

Psicologia torna a vida menos dura,

Em ambas, a palavra é via de cura.

Na poesia, podemos descarregar,

Na psicologia, iremos nos encontrar;

A poesia sempre irá nos tocar,

A psicologia vem para ajudar;

Com poesia, posso me deliciar,

Com psicologia, posso a vida apreciar.

Poesia fala de sentimento,

Psicologia faz tratamento;

Poesia fala de amor,

Psicologia cura a dor.

Poesia pode trazer alegria,

Psicologia nos acalma…

Não há dúvida!

Ambas são remédios para alma.

 

Rejane Nascimento

rejane.d@hotmail.com