Rogerio Sardela entrevista Luiz Mendes
Rogério Sardella: ‘Por Onde Anda Luiz Mendes?’
(por Rogério Sardella)
Longe dos microfones enquanto negocia seu retorno, Luiz Mendes conta que a carreira de radialista surgiu após a sugestão de uma psicóloga. Entre vários assuntos, ele falou sobre a luta de sua mãe para educá-lo, o acidente que sofreu quando trabalhava em ferrovias, sua experiência em rádios comunitárias e também sobre política partidária
Iniciada em nossa edição anterior, a série Por Onde Anda?, reserva muitas entrevistas para o leitor mais top da cidade, afinal, o objetivo é, além de homenagear, surpreender e emocionar o público, resgatando para nossas páginas histórias com pessoas que marcaram época em diferentes segmentos.
Conhecido pelo bordão ‘deixe de lero-lero, é samba que eu quero’, Luiz Antonio Mendes recebeu a Revista Top da Cidade/ROL – Região On Line -, em sua residência, localizada não muito longe do centro de Itapetininga.
Aos 60 anos e ainda conservando jeito de menino, nosso entrevistado comentou ter nascido em São Paulo no dia 20 de dezembro, onde morava com seus pais, Terezinha de Jesus Rodrigues Mendes e Luiz Gonzaga Mendes. Aos cinco anos veio residir em Itapetininga, com sua mãe, na casa de seu tio José, após a separação, sendo ele o único filho dessa relação.
Vila Santana foi o bairro em que Mendes passou praticamente toda a sua existência, incluindo fases como infância, adolescência e adulta.
Emocionado, ele citou com orgulho sobre a luta da mãe, que trabalhava como doméstica em casas de família para poder educá-lo e que chegou até mesmo a passar fome. A mãe trazia comida das casas das patroas para alimentar Luiz e a irmã Rita de Cássia. Os dois também se alimentavam na Legião da Boa Vontade, que ficava na Dr. Lobato.
Na vida escolar frequentou inicialmente a EE Sebastião Pinto, passando posteriormente para a EE Major Fonseca e na EE Prof. Abílio Fontes concluiu o Ensino Médio. “Gostaria de ter feito Jornalismo. É um sonho ainda não realizado”, revelou o entrevistado.
Ainda na infância, morou nas vilas Piedade e Rosa, procurando ajudar a mãe vendendo bananas, biju e foi engraxate no Mercado Municipal.
O trabalho na linha ferroviária estaria mesmo traçado em sua trajetória, tanto que aos 14 anos já era aprendiz, através do Curso de Formação de Transportes, quando entre 1969 e 1970, aconteceu a mudança da Sorocabana para Fepasa. Aprendeu o ofício de maquinista e aposentou-se como técnico de segurança patrimonial.
Luiz Mendes falou sobre o acidente que sofrera aos 30 anos, em São Paulo, passando por diversas avaliações médicas. Foi durante uma sessão com uma psicóloga, ao fazer uma careação sobre os fatos, ouviu dela que não deveria ficar tão triste e deprimido como estava, pois tinha um potencial muito grande na voz, podendo pensar em desenvolver algo como cantor ou locutor.
Mendes conta que a partir daquele momento passou a pensar seriamente na possibilidade de explorar a voz e que através do amigo Simas, também conhecido como Marapé (da dupla Morandi & Marapé), acabou conhecendo durante um festival sertanejo a dupla Joaquim & Manoel. Para a sua sorte, a pessoa que fazia as narrações comerciais do evento havia faltado, quando Mendes acabou encontrando a oportunidade de se apresentar publicamente, tendo Joaquim gostado de seu timbre de voz e posteriormente o levou para gravar na rádio Iguatemi mensagens publicitárias do programa Joaquim & Manoel. “Ali comecei a descobrir o mundo mágico do rádio, comecei a imaginar a minha voz saindo de um aparelho para milhares de pessoas”, recorda-se, comentando ter recebido muitos incentivos e que fez curso de radialista em São Paulo e continuou sendo ferroviário, até que em 1990, já casado, retornou para Itapetininga com a família, onde a trajetória no rádio continuaria.
Afastado de sua função de maquinista e trabalhando no escritório da Fepasa, através de um primo, surgiu para Mendes a oportunidade de fazer plantão esportivo para a Rádio Clube, onde tudo começou.
Recorda-se Luiz que após um desentendimento com o sonoplasta Lobão, conversou com o diretor comercial e resolvera deixar a emissora, até que um dia encontrou passando pela linha férrea o radialista Moacyr Oliveira, o qual comentou que Valter Nakan estava sobrecarregado na Difusora e que deveria ir para lá, onde foi apresentado ao empresário José Abrão.
Já na nova casa, começou a apresentar o programa esportivo da faixa das 18 horas, dividindo o espaço com Valter Nakan e Toninho Sales, além do plantão esportivo aos finais de semana, bem como o Domingo Esportivo Musical.
Durante a entrevista, Luiz Mendes citou com saudosismo o nome de cada colega de trabalho que se lembrava, como Fernando Leonel, Carlinhos José, Cidinha Moura, Paula Guarnieri, Valmor, Cristofer, José Augusto (Berimbelo), João Francisco, Brandão Filho, entre outros. “Aprendi muito, inclusive com os operadores de som. Nessa profissão temos que ter muita humildade”, enfatizou.
Contou Mendes que quando morava em São Paulo, o estilo musical que predominava nas paradas de sucesso era o pagode, como Raça Negra, Negritude Jr., Sensação, entre outros grupos do gênero e que após consenso entre os operadores de som da Difusora, inseriram o estilo no plantão esportivo.
Uma grande mudança ocorreria na vida de nosso entrevistado com a chegada das rádios comunitárias.
“Eu, sem malícia nenhuma, comecei a gravar vinhetas para o César José dos Santos (César Cardoso), que foi o pioneiro no ramo em Itapetininga, com a Educativa FM”, recorda-se Mendes”, que levou bronca de José Abrão, o qual lhe disse que ou ele trabalhava em rádio comercial ou numa pirata. “Não tiro a razão dele. Foi uma lição”, disse Mendes.
“O trabalho no rádio tem que ter dom para poder desenvolvê-lo, e além de tudo acaba-se sendo um formador de opinião”, ensina o radialista, citando como exemplo que já trabalhou para vários políticos e que inclusive apresentou vários comícios, não sendo apenas um locutor de estúdio, mas um apresentador de eventos diversos, não tendo qualquer timidez e interagindo com o público.
Fora da Difusora, Mendes continuou seu trabalho na Educativa FM e lembra-se que naquele período, por volta de 1997, o movimento das rádios comunitárias em Itapetininga era muito grande e que posteriormente foram criadas diversas outras emissoras, tendo ele numa oportunidade viajado num desses movimentos para Brasília pela legalização, chegando a ser processado.
Segundo o radialista, houve uma pausa no rádio e começou a fazer a campanha de políticos como Ricardo Barbará e Roberto Ramalho, além das campanhas dos prefeitos de Campina do Monte Alegre, Eduardo Ribeiro, e de Alambari, Hudson José Gomes, além de ação de vendas em estabelecimentos comerciais de Itapetininga e Região e também cerimoniais diversos.
Luiz Mendes conta que a oportunidade de voltar ao rádio aconteceu após a segunda campanha de Roberto Ramalho, quando voltou para a Rádio Clube, já como Rádio Globo, onde apresentou o programa Manhã da Globo, permanecendo até ano passado. “Comecei a ver que o mundo do rádio tem um elo muito forte com a política. Ou você faz parte do grupo ou não faz”, dispara Mendes, deixando claro que nem todas as emissoras trabalham assim, que existem exceções.
Longe daquilo que mais ama fazer, o radialista reclama da falta de oportunidades e que fez vários contatos com a diretora da Super Difusora, Tuti Abrão Morelli, mas que não houve uma definição e que para ele “pau é pau, pedra é pedra”, que por ele já estaria lá, chegando a dizer que já está ficando “desiludido” com rádio.
Embora tenha sido batizado na Igreja Católica, o radialista comenta que também frequenta outras denominações religiosas, não prendendo-se a nenhuma e que procura fazer suas orações em casa também, independente do momento, sempre colocando Deus em primeiro lugar. “Devemos muito e a todo o momento agradecer a Deus, porque um locutor, artista, cantor, existe uma grande dificuldade para trilhar o caminho do sucesso. Tudo isso é um dom que Deus dá. Teve um período em que ainda na Difusora um padre falou para mim que estava começando, que tomasse cuidado e que todos os caminhos têm as suas rosas e seus espinhos, que muitos acabam usando a gente como tijolinho para construir seus palacetes, depois que não serve mais esse tijolinho é descartado como entulho”.
O radialista não esconde a vontade de estar novamente no rádio. “É um sonho. Ainda tenho muito lenha para queimar e agora com muito mais experiência de vida. No rádio estamos sempre aprendendo, agora está muito mais evoluído, diz, ao comparar os equipamentos utilizados nas décadas passadas e os recursos atuais.
Vale lembrar que além da Rádio Iguatemi, Luiz Mendes fez rápida passagem pela Rádio Difusora Oeste, de Osasco, onde também trabalhou seu colega Arlindo Mendes.
“Itapetininga tem que valorizar as pessoas da sua cidade. Infelizmente muitas vezes acontece o contrário”, lamenta Mendes.
Mesmo não estando na ativa, o radialista diz ser impossível deixar de escutar programas, tanto que sintoniza emissoras locais e de outras cidades, sempre procurando aprender mais. Ele explica que existe diferença entre locutor de rádio AM e FM e que descobriu isso durante uma visita numa rádio de Jundiaí, após o locutor daquela emissora ter reconhecido sua maneira de se expressar.
Tendo trabalhado tantos anos em comícios, questionamos se Luiz Mendes já pensou em ser candidato a algum cargo político.
Ele conta ser filiado em um determinado partido e que já recebeu diversos convites, mas que colocou-se à disposição para fazer parte de um grupo, não como pré-candidato. Ele acredita que não basta apenas a carreira de radialista, mas ter um trabalho mais abrangente, social, e acima de tudo saber que a corrida pelo pote de ouro é grande. Para ele, “a política não deixa de ser um jogo, uma pirâmide. Se não tiver dinheiro, dificilmente você será eleito. Sou a favor de o salário do vereador ser salário mínimo. Se eu fosse candidato, uma das bandeiras seria essa”, diz.
Divorciado há doze anos, afirma estar e morar sozinho por opção, ele, que tem seis filhas, sendo duas do primeiro relacionamento com Angela dos Santos (Patrícia e Alessandra), quando o radialista tinha apenas 15 anos e as demais do casamento de 22 anos com Walquíria do Carmo da Silva (Keli, Daiane, Tatiane e Franciele), além de 12 netos.
Perguntado sobre uma voz que admira, Mendes citou que quando era menino ouvia muito Fiori Gigliotti, radialista e locutor esportivo .
Palmeirense, o radialista tem como frases: “a humildade é a voz silenciosa da razão” e “acreditar que é possível faz a diferença, independente de religião, sabendo que com Deus no coração e através de Deus e seu filho Jesus”.
Para Mendes, “Deus é como o ar que respiramos, uma força que não vemos, mas que está presente em todos os lugares e em todos os momentos”, concluiu.
Matéria para a Revista Top da Cidade/ROL – Região On Line
Rogério Sardela
Jornalista
MTB 0070270-SP
Com fotos
Credito: Rogério Sardela/Acervo pessoal