Marcelo Augusto Paiva Pereira: 'Os falsos profetas'

Marcelo Paiva Pereira

Os falsos profetas

O ano de 2020 foi marcado pela pandemia da covid-19, vírus de fácil contágio que causou milhões de mortes pelo mundo e ainda repercute em 2021, com mais casos de contaminação e óbitos. Decorrente desse macabro ambiente, muitas pessoas por aí afora fizeram previsões canhestras em relação ao “modus vivendi” posterior ao tão esperado fim da aludida pandemia.

As previsões divulgadas por aquelas pessoas apresentavam um mundo sem poluição, sem contaminação do meio ambiente natural, cidades mais limpas e sem trânsito de veículos porque, senão todos, a maioria dos habitantes passaria a realizar as atividades dentro das habitações, sem precisar sair para o cumprimento das tarefas diárias.

Ao entendimento daquela gente, os profissionais executivos e empresários fariam todos os trabalhos “on-line”, através dos laptops no conforto do lar, inclusive as reuniões, mediante programas e aplicativos desenhados para essa finalidade.

As compras domésticas pelas pessoas também seriam por internet, sem precisar ir às lojas reais (ou físicas), de modo a comprar as mercadorias pelas imagens publicadas nos “sites” dessas lojas. Os alimentos e outras compras seriam entregues no local de domicílio de cada; assim como as roupas, calçados, maquiagem e outros acessórios destinados ao embelezamento, além de outras mercadorias.

Atividades esportivas, claro, seriam adaptadas ao ambiente doméstico, com a compra de equipamentos de diversos exercícios concentrados, de dimensões impróprias aos moradores de moradias de área útil igual ou inferior a cinquenta metros quadrados (como exemplo, as “kitchenettes”). As academias de ginástica ficariam às moscas…

A indústria de automóveis seria atingida em cheio, com o fechamento de milhares de agências, a falência de várias indústrias e a readaptação das que ficariam, cuja produção seria reduzida e, talvez, limitada a veículos de transporte de carga. As pessoas – recolhidas em seus lares – porque desnecessários abririam mão do uso dos veículos de uso pessoal, esquecendo-os nas garagens ou estacionamentos ou os venderiam (sabe-se lá para quem…).

Para ir ao hospital o serviço de transporte seria realizado por aplicativos no celular, pelo qual o paciente – sob ameaça de infarto ou AVC – solicitaria uma ambulância ou outro veículo que fizesse as vezes, ainda que excepcionalmente. Ou, senão, a equipe médica se deslocaria até o local onde estivesse o paciente…

Parques públicos, jardins zoológicos, cinemas e outros lugares de lazer e entretenimento seriam apenas vistos pela internet, através de “sites” ou aplicativos que os mostrariam em imagens 3D, em passeios meramente virtuais. Afinal, para quê sair de casa?

Essas pessoas, que divulgaram tais previsões, não passaram de falsos profetas porque predisseram um futuro improvável e inadequado ao comportamento naturalmente social do ser humano. Aristóteles afirmava que somos animais políticos porque somente nos auto realizamos em sociedade e esta é real, material, física e não virtual.

Previram uma vida terrena imprópria ao sucesso e à autorrealização de cada, na razão de visões turvas, desconectas do elemento psicológico e afetivo, e na medida dos interesses ocultos, obscuros, que várias daquelas tinham ao divulgar essas previsões.

A realidade que hoje observamos é o gradual retorno à vida normal, como antes da declaração de pandemia pela Organização Mundial de Saúde. As pessoas tem saído e frequentado os ambientes comerciais, culturais, de lazer e de entretenimento que antes frequentavam, numa notória demonstração de felicidade, bem-estar e alívio por não mais ter que permanecer dentro das moradias e ver a vida passar pelas janelas, telas ou monitores dos laptops e celulares.

Por fim, a vida voltou a ser vivida fora das habitações, ainda que acrescida de medidas acautelatórias contra a pandemia, que tem sido combatida pelas vacinas. Somos sim, animais políticos e o mundo lá fora nos espera para que cada um se autorrealize.

 

Marcelo Augusto Paiva Pereira

secondo.appendino@gmail.com