No Quadro de Colunistas do ROL, uma Terapeuta da Alma: Bruna Rosalem!
Assinando a coluna ‘Psicanálise e Cotidiano’, os textos de Bruna Rosalem serão uma luz para conflitos interiores
O Jornal ROL tem um eclético Quadro de Colunistas que, por meio de textos literários, reúne escritores, poetas, artistas plásticos, pintores em tela, educadores, filósofos etc. E, agora, com o ingresso de Bruna Rosalem, psicanalista!
Com essa diversidade de visão lítero-cultural, ganham os leitores do ROL, e, por extensão, a cultura brasileira!
Bruna Rosalem é natural de Campinas e, atualmente, reside na cidade de Balneário Camboriú em Santa Catarina.
Começou a carreira na área da educação, trabalhando como pesquisadora universitária, escrevendo artigos científicos e apresentando trabalhos em congressos.
Cursou Mestrado na área de práticas culturais, quando, então, teve o primeiro contato com a Psicanálise. Influenciada por sua orientadora, que lhe apresentou a esse conhecimento fascinante, por ele foi gradativamente se apaixonando, até buscar uma escola de formação de psicanalistas e assumir de vez essa nova empreitada em sua vida.
Já com alguns anos de estudos teóricos, análise pessoal e supervisão, segue resoluta, mergulhando ainda mais profundamente no ‘estudo da alma’.
Segundo Bruna, o psicanalista nunca se forma, ele se deforma, a cada novo texto, novos conhecimentos, novo paciente. E que, para evoluir sempre nessa área, é imprescindível continuar se debruçando nos escritos psicanalíticos e fazendo a análise pessoal.
Bruna faz atendimentos presenciais, on-line e grupos terapêuticos.
É professora de cursos e workshops e também palestrante.
Bruna já tinha sido apresentada aos leitores do ROL, por meio de recente entrevista, concedida ao colunista Marcus Hemerly (acessar linque ao final da apresentação)
É esta Terapeuta da Alma que ora o ROL apresenta, prazerosamente, e agora na qualidade de colunista, a seus leitores!
Bruna vai assinar a coluna: Psicanálise e Cotidiano. E, como primeira contribuição, o texto ‘
O que é felicidade? Afinal, você se considera feliz?’
O que é felicidade? Afinal, você se considera feliz?
Não existe felicidade suprema. Ela é passageira.
Aproveite quando senti-la. E aprecie com moderação.
Já nos ensinava Sigmund Freud: “A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz“.
Exatamente. Ser feliz implica responsabilidade. Doação. Gratidão. Movimento.
Costumo dizer que felicidade é um estado de espírito. Isto é, sendo este um estado de espírito, não é, portanto, contínuo e permanente, é um momento. Diria até breves momentos.
A felicidade vem e vai, percorre corpo e mente, influencia na qualidade dos pensamentos e impulsiona o corpo a agir em favor das vontades e desejos, mesmo que estes últimos ainda não estejam muito claros para o ser desejante.
Enquanto em estado de felicidade, a pessoa em êxtase busca se apropriar daquilo que é positivo, que provoca bem estar. A felicidade então, se torna uma ebulição de sentimentos e emoções que motiva o ser a querer se sentir neste estado cada vez mais. Ironicamente, por vezes, a constante e ferrenha busca pela felicidade acaba resultando num fardo espiritual, numa luta interna, numa batalha sem fim, numa positividade intoxicante, como se a felicidade fosse um ente, um organismo, uma criatura que devemos incorporar a qualquer custo. E certamente somos bombardeados todos os dias com promessas para se alcançar a dita cuja: “Dez passos para nunca mais errar e ser feliz”, “Quinze maneiras de produzir mais e melhor”, “O passo a passo da mente eficiente”, “Como ter a mente equilibrada e tomar decisões certas”. E assim por diante. Inúmeras abordagens que representam um prato cheio de soluções rápidas e a pronta entrega.
Como disse, sendo a felicidade um estado, um momento e não uma constante ou uma sensação certeira e exata, não é nada fácil sentir-se feliz o tempo todo, é preciso esforço e motivação pra isso. E mais, pode soar contraditório, mas ser feliz o tempo todo é sinal de que algo não vai bem. Lembro do trecho da música de Frejat que diz assim: “e que você descubra que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero”. As nuances da vida justamente se dão entre momentos de contradição. Tristeza, fracassos, medos, frustrações, perdas, conquistas, êxitos, glórias, surpresas, novidades, enfim, tudo isso ajuda a modular nossos humores e nos faz vivenciar melhor as realizações, aprendemos a valorizar as experiências e a lutar pelos sonhos. A gente sente na pele e no coração que quanto mais a batalha é árdua, maior o prazer da vitória.
Não existe felicidade suprema. Ela é passageira. Aproveite quando senti-la. E aprecie com moderação.
A sensação de felicidade é decorrente de múltiplos fatores internos e externos que estão em momentos e fases diversas da vida, desvelados e desfrutados. Ou seja, a medida em que os conflitos, emoções e pensamentos internos vão se equilibrando dentro de nós, vai emergindo e crescendo a sensação de bem estar, de calma, de paz. Desse resultado entre mente, corpo e equilíbrio emocional, o estado de felicidade vai se afirmando.
Veja que é um conjunto de eventos, não apenas em um setor da vida, isto é, às vezes estamos bem na vida profissional, mas um desastre na vida pessoal, e vice-versa. Ou estamos prosperando financeiramente, mas nossa saúde está indo por água baixo. Em meio a um divórcio dolorido, a notícia da tão aguardada promoção no trabalho. Exemplos não faltam para demonstrar que a tal felicidade não é totalmente plena. Sempre haverá algo “pendente”.
Durante a nossa existência vão surgindo inúmeros desafios, provocações, incômodos, sentimentos de fracasso, perdas, vergonha, culpa, impotência, enfim, uma legião de afetos que nos provocam diversos tipos de pensamentos que vão gerar emoções e a partir delas, ações. Imerso nesse turbilhão de novas sensações, mudamos nosso estado de espírito. O equilíbrio emocional fica abalado, a paz interna por algum momento se esvai, a ansiedade sobre o que fazer e por onde ir toma conta dos pensamentos, o estado de felicidade se enfraquece e cede lugar a tristeza, a aflição, ao desespero.
Buscamos sempre retornar de alguma maneira seja consciente ou inconsciente à primeira experiência de satisfação. É uma busca constante do nosso viver. Decorrente disso vem outras sensações como segurança, tranquilidade, conforto, alegria. E este movimento vai gerar pensamentos e emoções que culminam em uma nova busca para retornar àquela sensação prazerosa que a felicidade nos proporcionou. Novamente, moções internas e externas vão entrar em ação, fazendo parte da própria dinâmica do viver. Sem isso, nos tornamos apáticos, inertes, letárgicos à empreitada energética que é a vida. Viver é prazer e desprazer, paz e conflito, bem estar e mal estar, sofrimento e contentamento.
Ao longo do tempo modificamos nossos objetos de desejo, nossos interesses e relações, aquilo que nos faz bem, portanto, se somos seres inconstantes porque a felicidade haveria de ser constante? A música da banda Capital Inicial já nos falava: “para que sofrer se nada é pra sempre?”
A felicidade vai muito mais além daquilo que, aparentemente e provisoriamente, nos preenche para determinado momento da vida. Tudo vai depender daquilo que está bem resolvido conosco, ou pelo menos, tentamos, para lidar com os afetos que vão nos acometer e em como compreenderemos e resolveremos esses afetos, de que maneira iremos agir, por onde se enveredar.
Se estamos bem, o estado de felicidade fica por mais tempo, nos demoramos nessa sensação boa, desfrutamos da paz que é gerada. Porém não é permanente, e mais cedo ou mais tarde, outros afetos virão e uma nova reorganização interna se fará necessário.
Bruna Rosalem
Psicanalista Clínica
@psicanalistabrunarosalem
www.psicanaliseecotidiano.com.br
Entrevista concedida por Bruna ao colunista Marcus Hemerly, em 08/12/2021.
https://www.jornalrol.com.br/marcus-hemerly-entrevista-a-psicanalista-bruna-rosalem-sobre-o-tema-saude-mental-em-tempos-pre-e-pos-pandemia/