Artigo de Celso Lungaretti: 'FALTA DE GRANDEZA E EXCESSO DE ESPERTEZA ESTÃO NOS CONDENANDO AO GOVERNO TEMER'
Celso Lungaretti: ‘QUEM TEM MEDO DE ELEIÇÕES?’
Por Randolfe Rodrigues |
Além das superficialidades e dos escândalos que apontam soluções simples para problemas complexos, a verdadeira crise que o Brasil experimenta é a de representação. O governo não governa, o Parlamento não legisla nem fiscaliza e o povo não é chamado a decidir.
A opção neoliberal do segundo governo Dilma a afastou de sua plataforma eleitoral, agravou os gargalos na infraestrutura do país, enfraqueceu a competitividade e acentuou o atraso tecnológico, com graves reflexos na produtividade. A economia parou.
No plano institucional, o eclipse total do diálogo levou a presidente da República e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, a atuarem não como chefes de poderes independentes, mas como comandantes de tropas inimigas.
Enquanto Dilma se mostrava incapaz de reagrupar a base e dialogar com o Congresso, Cunha passava a trabalhar para restringir a mobilidade do governo, usando para isso manobras regimentais sucessivas. Asfixiado, o Palácio do Planalto capitulou, demonstrando que aquilo que parecia o ocaso de um governo era, de fato, o réquiem do presidencialismo de coalizão.
No plano político, os escândalos de corrupção envolvendo a maioria dos partidos e líderes da situação e oposição descredenciaram o maniqueísmo e, com ele, uma saída a frio para a crise. O impasse não será resolvido se ignorarmos o desejo de participação da ampla maioria da população. O dique está prestes a ser rompido.
O que vem das ruas é a rejeição de um modelo. Pesquisa Datafolha divulgada no dia 9 mostrou que 61% da população quer afastar Dilma da Presidência. A destituição de Michel Temer é desejada por 58%. A rejeição ao vice-presidente consegue a proeza de unir os movimentos favoráveis e contrários ao impeachment.
Com Dilma e Temer sem o apoio das ruas e Cunha, o terceiro na ordem de sucessão, prestes a experimentar o frio do cárcere, fica claro que um problema excepcional exige uma solução excepcional, proporcional à gravidade do momento: novas eleições.
Em resposta ao impasse político, um grupo de senadores apontou para o futuro e assinou a Proposta de Emenda à Constituição 20/16, que prevê excepcionalmente uma eleição presidencial simultânea às eleições municipais de outubro.
O voto direto como forma de superar a crise já ganhou as manchetes internacionais, o parecer de juristas renomados e a opinião majoritária das ruas. O que falta, então, para o eleitor ser chamado a decidir quem deve governar a nação?
As eleições diretas estão para a democracia como a água benta está para o rito católico: purifica a matéria, espanta o mal e potencializa os efeitos positivos da oração.
Só os agentes das sombras podem temer a luz das urnas.
MEU COMENTÁRIO – O senador Randolfe Rodrigues, da Rede Sustentabilidade, faz uma defesa convincente da realização de uma nova eleição presidencial para conferir credibilidade àquele(a) que substituirá a agônica Dilma Rousseff.
Mas, não bastam os pequenos partidos para viabilizarem a aprovação de tal PEC. Sem o poder de fogo do PT, não conquistarão as ruas nem votos suficientes dos congressistas (três quintos do Senado e da Câmara Federal).
Há uma corrente no PT propondo que, antes da data fatídica de 11 de maio, quando ela será afastada, Dilma também envie ao Congresso sua PEC.
neste artigo) o seguinte roteiro:
- imediata adesão do PT e outras forças de esquerda à campanha por uma nova eleição presidencial, revivendo o espírito das diretas já.
Outro complicador é o de que, se ela não renunciar, não se estará oferecendo uma opção nítida aos brasileiros. Haveria, paralelamente:
- uma mobilização no sentido de que se antecipasse a eleição presidencial para outubro.
Ou seja, havendo suspeita de tratar-se de um pulo do gato, a chance de a nova diretas já vingar seria praticamente nenhuma.
Finalmente, devemos considerar os fatores Dilma e Lula.
Ela já se resignou a desocupar o Palácio, mas faz planos e mais planos (périplos gato-por-lebre inclusos) para chegar à votação decisiva, provavelmente no 4º trimestre, com o apoio de 28 dos 81 senadores, o suficiente para ser reempossada.
Então, por mais que isto implique o alongamento da agonia a que estão submetidos os brasileiros, com a recessão atingindo os píncaros e o desemprego tangendo cada vez mais trabalhadores para o desespero e a penúria, temo que Dilma vá acalentar tal ilusão até o mais amargo fim, não se dispondo de maneira nenhuma a renunciar.
Eu diria que a aposta de Lula seja a seguinte:
- deixar que Temer assuma, para fazer do governo dele o espantalho contra o qual o PT, encabeçando a oposição, poderá unir a esquerda.
(por Celso Lungaretti)
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