Sergio Diniz: 'Criando um grupo no WhatsApp'
“Entre para o grupo e compartilhe sobre como foi a sua constatação de que aquele montezinho ósseo, com o tempo, se transformou num Everest.“
Amigos do WhatsApp, estou criando um novo grupo aqui, como uma grande homenagem ao meu saudoso amigo João Escapulino, mais conhecido como ‘João Lastro’. O nome do grupo será: Amigos que têm joanete. E o objetivo dele, como o próprio nome indica, é ter um grupo de pessoas que comente tudo o que quiser sobre… joanete, claro!
E a homenagem se justifica, porquanto o querido amigo tinha um joanete que, no início, logo que começou ‘a ganhar corpo’, passou a incomodar o querido João. Era uma protuberância que, além de doer, deformava os sapatos, tênis e sandálias e dava um aspecto desagradável ao pé. Tanto que algumas pessoas bulinentas passaram a gozar da cara dele, dizendo que aquele joanete parecia um ‘lastro’ no pé, visando manter a estabilidade dele, ao andar. Por essa razão, João Escapulino passou a ser conhecido como João ‘Lastro’.
Entretanto, o ser humano tem uma incrível capacidade de resiliência, isto é, “a capacidade de se adaptar em situações difíceis ou de fontes significativas de estresse”. Trocando em miúdos, significa que “diante de uma adversidade, a pessoa utiliza sua força interior para se recuperar”, conforme definem os dicionários. E revestido desse espírito de aceitação, com o tempo João passou, de uma aceitação ao que lhe era inevitável trazer consigo corporalmente, a uma certa simpatia pela tal protuberância (que, aliás, crescia exponencialmente). E isso, mesmo contra a natural aversão que sua esposa, Cremilda, nutria em alto e bom tom contra aquela saliência que o marido, na hora de dormir, apoiava a noite toda sobre a perna dela, cheia de varizes.
Todavia, “há males que vêm para o bem”, como diz o velho deitado em sua rede, fumando cachimbo. E num dado dia, foi a tal protuberância óssea que salvou a vida, ou o bolso do amigo João. Voltando para casa, já tarde da noite após uma noitada de baralho com amigos, eis que, num trecho mais escuro da rua, uma voz rouca saindo do breu anunciou-lhe um assalto! João levou um susto tão grande que, perdendo a tal estabilidade do corpo, viu-se de cabeça para baixo e pernas para cima, cada chinelo Havaiana para um lado, num rodopio que, ao final, acertou o estranho bem no meio da testa. E tendo o joanete como poderosa ‘arma’!
A partir desse dia, o joanete de João, que para ele já era motivo de orgulho (“o meu hálux valgus!”, ostentava com todo mundo) se transformou no herói de todos os amigos dele. E até Cremilda passou a olhar para ele com certo carinho, merecendo dela banhos e massagens diárias com óleos aromáticos.
A história do meu amigo me impressionou tanto que tive a ideia de montar um grupo no Whatspp, a fim de reunir pessoas que também tenham o mesmo ‘desempenho ósseo’ e que queiram comentar sobre ele. Entre para o grupo e compartilhe sobre como foi a sua constatação de que aquele montezinho ósseo, com o tempo, se transformou num Everest; tentativas iniciais de extirpá-lo, ou, no mínimo, escondê-lo dos olhos alheios, quantos sapatos foram deformados, a ideia de desenhar uma carinha sorridente nele…
Entretanto, como todo grupo do Zap, desde já quero advertir aos eventuais participantes de que este está sendo montado com um único objetivo, qual seja, para tratar sobre… joanetes. JO A NE TES! Na qualidade de administrador do grupo, e em termos mais objetivos, desde já deixo claro que, se alguém resolver postar sobre unha encravada, gota, pé de atleta, calos, esporão, chulé e casos que tais, serão sumariamente excluídos do grupo!
Por fim, lembrando o Senhor Spock, personagem queridíssimo da série Jornada nas Estrelas, aos joanetes de cada um e de cada dia, desejo: “Vida longa e próspera!”