Patrícia Alvarenga: 'A difícil arte de impor limites'

Patrícia Alvarenga

A difícil arte de impor limites

Muitos já devem estar até acostumados a artigos sobre a necessidade de se impor limites, especialmente ao pronunciarmos sentenças negativas, isto é, ao dizermos ‘não`. Mesmo assim, continuam a conviver com essa dificuldade em suas relações familiares, sociais ou profissionais. Não se trata de egoísmo, mas de amor-próprio. E é sob essa perspectiva que vou escrever hoje.

Passamos a vida toda, especialmente na cultura brasileira, carregando um certo sentimento de culpa, quando não assumimos nossos verdadeiros anseios, geralmente para não magoar outras pessoas. Assim, contra nossa vontade, vamos frequentando lugares, aceitando convites sociais ou de trabalho, e mantendo relacionamentos que não nos acrescentam e até nos incomodam. Todavia, não deveria ser nenhum problema, ao receber um convite para uma festa, por exemplo, logo respondermos: ‘Agradeço seu carinho, mas, infelizmente, não poderei ir’. Simples assim, bem prático e direto, sem maiores satisfações, que só iriam tornar a situação mais constrangedora para ambos os lados, o que, de regra, acontece quando, bem próximo à data do evento, o sujeito cria uma desculpa para não comparecer ou, pior, comparece ao compromisso, mesmo a contragosto.

Também não podemos estar sempre disponíveis a todos e isso deve ser compreendido. O tempo é algo bastante raro e limitado em nossa frenética sociedade. Logo, devemos também reservar uma boa parte de tempo para nós mesmos.

O medo de ser rejeitado, de não ser aprovado, de decepcionar o outro, muitas vezes faz com que a pessoa fique sobrecarregada e até infeliz, pois é impossível dizer ‘sim’ a tudo e todos. É necessário impor limites e assumir suas próprias escolhas, priorizando o que traz realização pessoal. O outro tem que entender que você não está criando um conflito ou deixando de ser gentil, mas que precisa fazer opções. Isso nos liberta de muitos desconfortos.

Não, não é embaraçoso ou mal-educado dizer ‘não’ em determinadas situações! Posso escrever, por experiência própria, que, ao aprendermos a impor limites, sentimos uma liberdade excepcional! Confesso que não foi algo fácil para mim e ainda estou em processo de aprendizagem. Fui criada de forma a ser submissa e a jamais questionar ou negar pedidos de parentes, de pessoas mais velhas ou de chefes, dentre outros indivíduos. Logo, só quando veio a maturidade e, com ela, a percepção de nossa finitude, aliada à psicoterapia que faço há alguns anos – que me fez desenvolver o autoconhecimento – passei a exercer esta ‘arte’. Exerça-a você também, caro leitor!

 

Patrícia Alvarenga

patydany@hotmail.com