Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo: 'Relações humanas sinceras'

Diamantino Lourenço R. de Bártolo

Relações Humanas sinceras

A sinceridade entre interlocutores ajuda à compreensão e, sempre que necessário, à tomada de boas decisões, porque a mentira, a ambiguidade e a omissão, intencionais, para negar, confundir ou esconder, respetivamente, partes importantes do discurso, normalmente conduzem à desconfiança, ao descrédito e ao rompimento de relações e, também, quando existe, ao fim da própria amizade.

As relações humanas sinceras revelam o verdadeiro caráter de quem assim procede. Faltar à verdade é trair quem em nós acredita e nos ouve, é levar as pessoas a formular juízos de valor a propósito de quaisquer interesses, situações e outras pessoas que, assentes na mentira, são errados, injustos, imorais e eticamente condenáveis.

Faltar à verdade para salvar a própria vida, ou de algum ente querido, ou de um amigo especial, sem incriminar outras pessoas, poderá ser, moralmente, aceitável? Negar um facto para evitar que alguém seja condenado, quando tal episódio não prejudica ninguém, a não ser a própria pessoa, que até se prova ter sido involuntário, impensado, sem premeditação de dolo, poderá ser objeto de castigo? E num teatro de guerra, ou similar, mentir quanto à nacionalidade, religião e quaisquer convicções políticas, filosóficas ou outras, para salvar a vida e o bem-estar daqueles que dependem de nós, constituirá mentira, assim tão gravosa? E, finalmente, num simples jogo, afirmar-se que se possuem determinados elementos, (cartas importantes, estratégias e táticas, por exemplo) para levar o adversário, a cometer erros, e nós ganharmos a partida, tal mentira será condenável?

A omissão leva a não se dizer tudo quanto se sabe sobre um determinado assunto, às vezes até para salvar uma relação pessoal. Será como uma espécie de mensagem telegráfica: objetiva e, simultaneamente, evasiva quanto a pormenores, responde-se, exclusivamente, ao que nos é perguntado, sem se entrar em detalhes, porque de contrário, novas questões surgem, novas particularidades são pedidas e, poder-se-á chegar a determinada situação em que das duas uma: ou se diz toda a verdade, que até não convém; ou se entra pela mentira que, igualmente, virá a ser prejudicial na maior parte das situações de vida. A opção é difícil e cada pessoa é aquilo que as circunstâncias lhe pedem.

Excluídas, portanto, situações-limite, praticamente de vida ou de morte, determinados tipos de jogos, não esquecer que o negócio, por vezes, também é um jogo, todavia, depois de fechado, não será correto reabri-lo com argumentos falsos e diversas conjunturas onde a omissão é utilizada, nada justificando a mentira e, como diz a sabedoria popular: “A mentira tem a perna curta” ou seja: mais tarde ou mais cedo, ela é descoberta como tal.

Hoje, praticamente, não se fecham negócios com um simples e vigoroso aperto de mão; hoje, nem o documento escrito é respeitado quando outros interesses, por vezes mesquinhos, se levantam; hoje, o que juramos sob palavra de honra, pela própria saúde e até dos entes mais queridos, pela felicidade, por Deus, amanhã poderá ser negado, na medida em que se ontem havia uma verdade, rapidamente ela poderá ser substituída pela mais descarada e abjeta mentira.

O comportamento humano nestes novos tempos, assumido por muito “boa gente” parece cada vez mais volátil, é o rumo que, para certas pessoas, parece produzir os melhores resultados. Então a mentira utilizada neste tipo de “navegação à vista”, de vidas efémeras, certamente que conduzirá à desconfiança, às desavenças, ao conflito cego e fatal, enfim, ao “naufrágio”.

Nas nossas relações humanas diárias, em quaisquer contextos civilizados e humanamente credíveis, deve-se utilizar sempre a verdade, com abertura de espírito, para melhor podermos dialogar com lealdade e, por que não, com amizade? A, verdade, normalmente, é sempre a mesma, não tem alternativa, deve ser utilizada por quem se quer bem, por quem revela consideração e estima por outra pessoa, por quem deseja viver em harmonia consigo e com os seus semelhantes, com felicidade.

A lealdade nas relações humanas, a partilha de alegrias e tristezas, sucessos e fracassos, desejos e projetos, é um valor que cimenta a amizade para toda a vida, que abre um “cantinho no coração”, para nele acolhermos quem nos fala verdade, só que às vezes deixamo-nos iludir, corromper por quem nos quer impressionar com uma qualquer aparência, ou posições sociais elevadas, por “lobos vestidos de cordeiros” e somos levados a rejeitar quem sempre nos falou verdade, porque esta lealdade nas relações humanas, para muita gente, é bem difícil, nada conveniente e, por isso mesmo, desvalorizada, ridicularizada, nomeadamente por quem tem objetivos de uma qualquer conquista.

 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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