Marcelo Augusto Paiva Pereira: 'Ucrânia: a resistência contra a força'
Ucrânia: a resistência contra a força
A Europa tem sido palco de muitas guerras desde a Idade Antiga, anteriores ao surgimento e crescimento de Roma (Monarquia, República e Império) até a época atual, ocasião da guerra na Ucrânia. Seus desdobramentos e estratégias militares merecem alguns comentários, mesmo superficialmente.
Aos 24 de fevereiro aquele país europeu foi invadido pelo exército da Rússia, a mando do presidente Vladimir Putin, com o objetivo de conquistar os territórios habitados por russos ou descendentes e “desnazificar” o governo ucraniano. Até o presente a guerra não acabou e os militares russos não conseguiram conquistar a capital Kiev.
Nas semanas que antecederam à invasão, o presidente Volodymyr Zelensky pediu à Otan que enviasse tropas militares para defender a Ucrânia contra a – possível – invasão russa, mas foi negado por não haver participação da Ucrânia nessa organização militar, o que custou a defesa desse país por ele próprio, ainda que com armamento militar fornecido pelo ocidente.
As sucessivas manobras militares que a antecederam indicavam essa finalidade diante da Otan. Recusar proteção à Ucrânia por motivos contratuais foi farisaísmo, assim como crer nas afirmações procedentes de Putin de que não invadiria aquele país. Foi mais cômodo omitir-se ao se justificar pelas palavras do que arriscar-se em face do inimigo.
Na guerra na Ucrânia tem ocorrido diversos erros táticos: primeiro, o da Otan, ao negar o encaminhamento de tropas militares àquele país; em seguida, os praticados pelo exército russo, com estratégias mal planejadas, que subestimaram o poder defensivo do exército ucraniano. Vladimir Putin afirmou que Kiev seria conquistada em três horas, mas até o presente ela não capitulou.
As estratégias promovidas pelas tropas russas não resultaram na eficácia planejada nem alcançada. Os cercos realizados em Kiev não obtiveram o êxito da conquista, foram rechaçados pelos militares e cidadãos ucranianos que, mesmo em menor número, souberam defender a capital e fazer as tropas russas recuar. O planejamento militar dos russos ignorou o poder de defesa do exército e de resistência da população ucraniana. Um gravoso erro tático.
O exército e a população ucraniana aproveitam as brechas nas ofensivas das tropas russas para derrotá-las ou fazê-las recuar e recuperar territórios anteriormente ocupados pelo inimigo. Os recuos das tropas russas mostraram inoperância nas manobras para a conquista da capital daquele país e indicam a reorganização dos planos para o atingimento de outra finalidade (conquistar o leste e o sul da Ucrânia).
Deixados à própria sorte, o exército e a população ucraniana tem dado ao mundo exemplos de táticas militares e resistência contra o invasor. Mostraram – inclusive à Otan e aos EUA – que eles tem mais méritos do que todos os países signatários dessa organização militar. Mas, a dúvida permanece: se, ao tempo do pedido de Volodymyr Zelensky, a Otan tivesse encaminhado tropas militares para defender a Ucrânia, Vladimir Putin teria ordenado a invasão desse país? Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira
secondo.appendino@gmail.com