Patrícia Alvarenga: 'Saudade"

Patrícia Alvarenga

Saudade

Um sentimento forte, intenso, profundo e, muitas vezes, doloroso. Uma emoção que todo ser humano já vivenciou, em algum momento: a saudade. Como já disse o inesquecível poeta chileno Pablo Neruda, em seu poema ´Saudade`: (…) “Saudade é amar um passado que ainda não passou/É recusar um presente que nos machuca/É não ver o futuro que nos convida… /Saudade é sentir que existe o que não existe mais…(…)”.

Emoção sentida e interpretada conforme suas experiências, suas reflexões, suas memórias e suas impressões. Amores, familiares, amigos e até animais de estimação que se foram; perdas e faltas; momentos e situações; distância…

Tema inesgotável e onipresente na literatura e na música. Sentimento familiar a todos. Tristeza, melancolia, dor e ausência. Sim, a ausência que pesa e magoa; que traz lembranças, sofrimentos e desespero também. Não por acaso a expressão ´estou morrendo de saudades` é tão utilizada, pois, como já versejou nosso aclamado artista Chico Buarque: “Era tanta saudade/É pra matar/ Eu fiquei até doente/ Eu fiquei até doente menina/ Se eu não mato a saudade, é “deixa estar”/ Saudade mata a gente/ Saudade mata a gente menina (…)”.

A palavra saudade veio do latim solitas, solitatis. Solitas significa solidão, desamparo, abandono. Daí, resultam alguns de seus significados, como lembrança nostálgica de pessoas, coisas ou fatos distantes ou extintos; bem como o desejo de reaver um bem ou uma pessoa de que se está privado.

Querer reviver o passado é algo inerente a qualquer pessoa. Relembrar aquilo que nos trouxe felicidade é natural e inevitável; alimentar-nos dos bons sentimentos do eterno querer.

Vinícius de Moraes, um de nossos mais românticos poetas, muito escreveu sobre a saudade, especialmente da mulher amada. Como não lembrar de seu poema ‘Chega de Saudade´, onde ele manda sua tristeza dizer à sua querida para, numa prece, regressar, porque não aguenta mais sofrer e que, sem ela, “Não há paz, não há beleza/É só tristeza e melancolia(…)”.

Sentimento tão múltiplo e, ao mesmo tempo, tão singular, o qual, por mais escrito, cantado, declamado e musicado, é uma fonte inesgotável para a arte, em especial, para a poesia.

 

(Texto adaptado do prefácio que escrevi, a convite do organizador, para a coletânea ´Relicário da Saudade-entre o lirismo e a dor`, publicada pela editora Ecos/2021.)

 

Patrícia Alvarenga

patydany@hotmail.com