Claudia Lundgren: 'Eterna morada'

Claudia Lundgren

Eterna morada

Se mil vidas eu tivesse, todas elas, de ti, eu nasceria;

foi mãe na medida exata para o meu eu criança

e é o suporte para a adulta, ainda tão dependente, que sou.

 

Que outra mulher, para ver sua filha feliz, no meio-fio sentaria,

e que deixava ela trazer para casa latas e joaninhas?

Desde a infância, os meus sonhos mais loucos ela também sonhou.

 

Sinônimo de doação, de amizade e de melhor companhia.

Dizia “Você pode!”, quando eu incapaz me sentia.

Seus conselhos, broncas e silêncios me fez ser o que hoje sou.

 

Ela sempre me dizia que eu era capaz, que eu conseguiria.

‘Vai criança, vai mais além. Voa, voa, andorinha!’.

Me ensinou a ler com a sopinha de letrinha.

 

Sempre no meio da noite, eu sabia: ela me acolheria.

Em meio ao meu sono conturbado, era minha calmaria;

o porto seguro do meu caos interior.

 

Minhas conquistas, a sua alegria;

seus olhinhos brilham a cada boa notícia,

e também choram em meus momentos de dor.

 

Se mil vidas eu tivesse, retribuir eu jamais poderia;

peço perdão pelas vezes que fui decepção:

é que ser como você eu jamais conseguiria.

 

Foi uma gravidez de risco; ela repousou, e eu nasci;

ela se sacrificou, por isso hoje estou aqui;

um parto forceps; dela eu não desejava sair.

 

Na verdade, há um cordão imaginário que nos une;

e eu ainda moro ali.

 

Claudia Lundgren

tiaclaudia05@hotmail.com