Laia do Teatro estreia peça A Morte e a Donzela, de Ariel Dorfman, uma reflexão sobre as ditaduras militares na América Latina
Com direção de Laerte Mello, espetáculo fica em cartaz no Espaço Parlapatões, de 21 de maio a 26 de junho. Elenco traz Aline Pimentel, André Barreiros e Victor Barreto
Questionamentos sobre as consequências das ditaduras civil-militares na América Latina são levados à cena pela Laia do Teatro em A Morte e a Donzela, do autor argentino-chileno Ariel Dorfman. O espetáculo, dirigido por Laerte Mello e estrelado por Aline Pimentel, André Barreiros e Victor Barreto, estreia no dia 21 de maio no Espaço Parlapatões, onde segue em cartaz até 26 de junho.
Escrita em 1990, durante o período de transição para a democracia, logo após o fim da ditadura de Augusto Pinochet, a peça de Dorfman já foi traduzida para mais de 40 idiomas e ganhou uma adaptação cinematográfica bem-sucedida do diretor Roman Polanski em 1994. O autor também é conhecido por denunciar os crimes cometidos nos regimes autoritários latino-americanos em outras obras, como no livro “O Longo Adeus a Pinochet”.
A Morte e a Donzela conta a história de um casal que sofreu na própria pele a repressão no Chile e ainda convive com os fantasmas da tortura, das perdas e do medo. Paulina Salas é uma ex-ativista que foi sequestrada e brutalmente torturada durante o regime militar. E Gerardo é um proeminente advogado e militante dos Direitos Humanos.
Por uma sequência de acasos, Paulina se depara com Roberto Miranda, o homem que ela acredita ser o mais cruel de seus torturadores, dormindo em sua sala de estar. As ações e reações violentas do casal levantam questionamentos profundos sobre a elasticidade dos limites éticos em situações extremas.
O texto ainda trata de questões como a preservação da memória e a reparação de crimes cometidos contra a humanidade e os efeitos provocados pelo regime opressivo para o tecido social. “O grito de Paulina é por respeito às famílias que tiveram parentes desaparecidos, é por uma punição exemplar que desencoraje postulantes a ditadores nos tempos atuais”, reflete o diretor Laerte Mello.
“Infelizmente, a peça dialoga profundamente com o Brasil de hoje. É possível ver a olhos nus nuvens totalitárias no horizonte do povo brasileiro. Basta deslizar o feed de notícias e ler sobre o desejo de parcela da sociedade em ver o retorno do AI-5, ou o fechamento do congresso e do STF, o esforço do Executivo e a celeridade do Legislativo na aprovação de leis que facilitem o acesso às armas, o anseio pela militarização do Estado, o desejo do chefe do executivo e seus apoiadores em celebrar o golpe de 64”, acrescenta.
A encenação se passa toda na casa de Paulina e Gerardo, sobretudo no quarto e na sala de estar, onde dorme o ex-torturador. Esses espaços são retratados de forma minimalista, com poucas peças imprescindíveis para a ação, como uma mesa de jantar para duas pessoas, um aparador e duas cadeiras. As paredes que dividem os ambientes são representadas com armações de madeira como se fossem molduras de quadros.
A trilha sonora conta com músicas do compositor austríaco Franz Schubert, sobretudo o quarteto de cordas nº 14 em ré menor, mais conhecido como “Death and the Maiden”, nome escolhido por Ariel Dorfman como o título original da peça.
Sobre a Laia do Teatro
A Laia do Teatro iniciou sua trajetória em 2020. Diante da necessidade de buscar novas formas de expressão artística que pudessem minimizar distâncias, o grupo partiu para a experimentação em “Só os Pássaros São Livres”, propondo um espetáculo provocativo que convidava o público a (re)pensar o alcance das interações humanas nas redes sociais. O trabalho foi escrito e coordenado por Victor Barreto e inspirado na obra de Eduardo Galeano.
Em novembro de 2021, o grupo realizou a pré-temporada de “A Morte e a Donzela”, de Ariel Dorfman, com quatro apresentações no Teatro Pequeno Ato.
Sinopse
Escrita em 1990, “A Morte e a Donzela” ambienta-se no Chile, durante o período de transição para a democracia, logo após o fim da ditadura de Pinochet. O texto conta a história de Paulina Salas, uma ex-ativista que foi sequestrada e torturada durante o regime militar, e de Gerardo, advogado proeminente e militante dos Direitos Humanos. Eles são um casal que, alguns anos após o fim da ditadura, ainda convive com os fantasmas da tortura, das perdas e do medo. Por uma sucessão de acasos, Paulina se depara com Roberto Miranda, o homem que ela acredita ser o mais cruel de seus torturadores, dormindo em sua sala de estar. A partir deste ponto as ações e reações violentas de Paulina e Gerardo levantam questionamentos profundos sobre a elasticidade dos limites éticos em situações extremas.
Ficha Técnica
Texto: Ariel Dorfman
Tradução: Laia do Teatro
Direção: Laerte Mello
Assistente de direção: Fernanda Versolato
Elenco: Aline Pimentel, André Barreiros e Victor Barreto
Cenário e iluminação: Laerte Mello
Produção de som: David Bessler
Fotos: Artur Kraimmer
Assistente de produção: Mariana Guerrero e Gabriel Salvino
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Designer/projeto gráfico: Guilherme Cruz