Artigo de Pedro Novaes: 'Leitura'

colunista do ROL
Pedro Novaes

Pedro Israel Novaes de Almeida    – LEITURA

 

 

Somos um povo inculto.

As notícias chegam, telegráficas, pelo rádio e TV. Revistas e grandes jornais são pouco lidos.

Manchetes são mais lidas que o conteúdo, e costumam aglomerar multidões defronte as bancas. Comprar e ler livros é um hábito de poucos.

A leitura escolar sobrevive por ser compulsória, quase limitada a obras didáticas, ou enunciadas nos vestibulares. Livros foram substituídos por apostilas, e já são raros os autores isolados.

A internet tem sido o maior elo entre o brasileiro e a formação cultural, mas os acessos buscam, em regra, redes sociais, que alternam boas escritas a línguas estranhas, fatos e boatos, com farta desinformação. Bem utilizada, a internet pode ser tão útil quanto um bom livro impresso.

Rádio, TV e internet substituíram os jornais, no quesito notícia. Antes de abrir o jornal, o cidadão já foi informado do fato, o que tem levado as publicações a comentários, análises e descrições de contextos.

Esporte, fofocas políticas e sociais, horóscopo e manchetes escandalosas disputam a preferência dos leitores, sempre ansiosos pelo caderno de negócios, sejam de veículos, animais, imóveis e materiais usados, além da oferta de empregos e serviços. O caderno de negócios costuma ser o alvo predileto dos gatunos de bancas.

A leitura atenta desenvolve habilidades, como a capacidade de abstração, memorização e entendimento de enunciados. A leitura ensina a língua, tão judiada pelo rádio e internet.

Com pouca leitura, consagramos a oralidade como meio de transmissão da cultura e informação. A oralidade pode, em determinados contextos, gerar guetos e alimentar vícios, aí incluídos os preconceitos e superficialidades.

Na verdade, a escrita costuma ser bem mais cuidadosa e elaborada que a fala, e daí mais acreditada. Pouquíssimos autores escrevem “menas”,  termo recentemente utilizado até por um senador da república, em sua tribuna.

Povos mais cultos e informados constroem ambientes amadurecidos e politicamente mais estáveis, sendo pouco receptivos aos aventureiros de sempre. Costumam ser mais respeitadores e solidários.

No contexto mundial, figuramos em péssima posição, no quesito leitura.  Outros povos ensinam a leitura como hábito e exemplo familiar.

Nossa triste condição pode ser avaliada pelos baixos índices de audiência de noticiosos, entrevistas e reportagens especiais, e altíssimos índices dos programas de fofocas e intimidades de famosos. Em nosso meio, são poucas e pouco frequentadas as bibliotecas. Vamos mal !

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.