Neusa Bernado Coelho: 'Paralelo cultural'

Neusa Bernado Coelho

Paralelo cultural

A inovação da Semana de Arte Moderna reflete na sociedade ao trazer uma nova visão sobre os processos artísticos. O desenvolvimento das atividades culturais ocorridas em São Paulo na semana de 1922 me faz pensar num cenário das artes criadas por meio da reciclagem e conscientização ambiental.

A Pro-CREP-Criar-Reciclar-Educar e Preservar é um projeto ousado a fazer esse papel. Atua na transformação do lixo, de modo a lançar um olhar inovador para a poesia, artes plásticas e literatura.

A ruptura com o passado se expressa na renovação da linguagem que busca a solidariedade, a experimentação da liberdade econômica e a criação. Expressa a certeza de que os materiais recicláveis são fontes de renda e sustento para muitas famílias, por meio da criatividade.

O burburinho causado na Semana da Arte Moderna é, na coleta seletiva, o barulho das caçambas que chegam atulhadas de reciclados, para a alegria dos trabalhadores no galpão.

Separar plástico, metal, alumínio e papel; realizar o enfardamento dos materiais e reciclar óleo para usina de biodiesel, representam a nova vanguarda.

Essa nova linguagem atrai turistas, instituições escolares públicas e privadas, artistas e outros públicos admiradores da arte da transformação.

No projeto, as tendências artísticas florescem nos resíduos sólidos ao adquirir valor comercial com o brechó ecológico de ‘Consumo Consciente’. Na ‘Feira do Cacareco’, tudo se aproveita e se troca dando nova destinação aos objetos e elementos rejeitados. Na ‘Oficina de Mosaico de Azulejos’, o reaproveitamento de cerâmicas descartadas pela construção civil oferta ao público uma gama de belíssimos quadros, murais, vasos, todos de intensos coloridos e representações poéticas. Na ‘Oficina de Costura’, recicla-se os tecidos e recria-se moda em harmonia com formas e cores.

A inspiração para fazer arte, com foco na educação socioambiental, provém do lixo que seria descartado de forma irregular na natureza. É a matéria-prima a gerar o desenvolvimento sustentável e a inclusão social. Enfim, são valores agregados a valorizar o trabalho manual e, sobretudo, preservar o meio ambiente. São oportunidades de trabalho que proporcionam o sustento para várias famílias, inclusive haitianos, mulheres desprovidas de renda, população afrodescendente, ressocialização de ex-dependentes químicos, entre outros…

Na semana de fevereiro de 1922, destacaram-se artistas e articuladores do movimento; hoje, os protagonistas são os trabalhadores, talentos anônimos experimentadores de outras estéticas; saíram do lixão para o galpão, preservam o meio em que vivem e sublevam as coisas do homem ao sagrado. A arte de reciclar é a poesia transformada, são anseios e virtudes, quiçá instrumento de paz entre as nações.

Esse paralelo cultural é meu ‘Olhar Feminino entre Letras e Tintas’ o qual defendo ser alinhavado e cada vez mais implementado pela sociedade para irmos além, e gerar outros movimentos a exemplo deste e daquele ocorrido há 100 anos na Semana da Arte Moderna.

 

Fontes pesquisadas:

doeganhe.com.br/pro-crep-organizacao-para-preservacao-ambiental/

 

Neusa Bernado Coelho

farmaciadobetinho@yahoo.com.br