Paulo Siuves: 'A música estava no ar'

Paulo Siuves

A música estava no ar

Eu fui virar o disco, tentei puxar da memória a música que estava tocando… não me lembro. Não consigo me lembrar mesmo. Era noite de meio de semana, era noite fria de agosto, era noite de poucas pessoas em volta e a fumaça do cigarro não atrapalhava nossos olhares de se cruzarem. A música deveria ter ficado, droga! O vinil está conservado, mas não era essa música daquela noite;  essa é só porque nós dois gostamos, um gosto em comum, um entre tantas coisas em comum entre nós dois. O gosto musical, a preferência por bebidas fortes, o jeito com os animais e a predileção por certos tons de azuis.

Sua música deve ter sido tocada naquela noite, mas eu não consigo me lembrar de nenhuma das que tocaram naquela caixa sonora. Decidi colocar essa música velha porque você também gosta de música dos anos oitenta. Esse vinil é meu. Guardo com muito carinho, com cuidado excessivo. Mas será que um dos nossos amigos que estavam lá vai lembrar de pelo menos uma música que tocou naquela noite de outono fria?

Sua boca me seduzia. Sua pele arrepiada. Seu cabelo perfumado. Seu cheiro de mulher cuidadosa. E a música estava no ar. Logo em frente tinha um cruzeiro, lá estava a cruz vazia e o local de oração também vazio. E meu coração pulsava forte, meus olhos pararam em você; sei lá, estava apaixonado por tudo em você. Vamos ouvir o disco de novo? Não era essa música, com certeza não era, mas é um disco muito gostoso de ouvir, assim com você em meus braços!

 

Paulo Siuves

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