Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo: 'A ética do professor'
A ética do professor
Com efeito, considera-se neste trabalho, cujo tema central é a “Ética do Professor”, a colaboração que ele poderá (e deverá) dar na preparação de um novo cidadão, que seja capaz de contribuir para a resolução de questões de natureza algo inefável e abstrata, mas que influenciam a vida concreta, material e objetiva do ser humano. Ser capaz de avaliar todas as hipóteses possíveis: as tradicionais e as que têm cobertura científica, mas também todas aquelas que podem constituir alternativa e caminho para as soluções, que tardam em aparecer, para os problemas sociais.
Será no âmbito da cooperação, entre os vários níveis do conhecimento, que se regista o aparecimento de uma nova “pedagogia não cognitiva”, a qual possibilita a análise de diferentes hipóteses de solução para os vários problemas que obstaculizam o objetivo pelo qual o homem vem lutando: viver numa sociedade mais feliz, humanista, solidária, justa e segura.
Num contexto ecuménico tão complexo, o professor, qualquer que seja o nível de ensino/aprendizagem, certamente tem dificuldades em posicionar-se cultural, científica e tecnicamente, face aos seus alunos, a problematização da sua posição é mais evidente, quando é confrontado com decisões que envolvem o domínio ético, porque: entre a competência profissional; a observação das normas jurídicas aplicáveis; os legítimos interesses dos alunos e respetivos encarregados de educação; a imagem da Instituição em que está integrado e as normas deontológicas, provocam-lhe dificuldades acrescidas na consolidação de princípios, valores, interesses e sentimentos envolvidos em todo o processo.
O posicionamento ético-deontológico do professor, pressupõe a sua total abertura para acolher, dos seus alunos e encarregados de educação, as sugestões que sejam do interesse destes intervenientes, no que se relaciona com o estudo e prática de matérias que eles consideram como as mais necessárias para as suas futuras atividades profissionais, respeitando, obviamente, um curriculum mínimo nacional, fixado pelas entidades competentes.
Com igual posicionamento, ético-profissional, o professor deve, em princípio, e havendo acordo entre os alunos, negociar com estes, no início de cada ano escolar, os instrumentos e ponderações para as avaliações, naturalmente no respeito por critérios de justiça, e num quadro de absoluta legalidade, buscando, por esta forma, uma avaliação do aluno, o mais justa e abrangente possíveis: «Para realizar uma avaliação integral do aluno, isto é, para avaliar as várias dimensões do seu comportamento, é necessário o uso combinado de várias técnicas e instrumentos de avaliação, que devem ser relacionados tendo em vista os objetivos propostos.» (HAYDT, 1997:313).
Para o aluno, a avaliação deve constituir-se como estímulo, informação, orientação e prémio, e em circunstância alguma entendida como castigo ou rotulagem de incompetência, ou atraso mental; para o professor, trata-se de uma função complexa que lhe proporciona oportunidades únicas para aperfeiçoar seus procedimentos de ensino/orientação/tutoria, com um sentido orientador, em suma, sendo uma função complexa, ela é nobre, porque lhe proporciona a realização da sua própria introspeção,
A responsabilidade de quem avalia é inquestionável, porque de uma avaliação, justa ou injusta, pode depender o futuro de um jovem, de um profissional na sua carreira, da evolução individual e/ou coletiva de um grupo. Avaliar é julgar, e quem julga deve munir-se de todos os meios ao seu alcance, legais, irrefutáveis, verdadeiros e justos, com os quais formará, conscientemente, a convicção de que está a ser correto e equitativo.
A Deontologia Profissional do professor é fundamental no julgamento que vai fazendo dos seus alunos e, tal como o juiz, em processo judicial, que julga a partir dos factos, inequivocamente provados, e da convicção que forma em sua consciência, sobre o caso concreto em apreciação, podendo resultar danos incalculáveis, injustiças e consequências irreparáveis ao condenar um inocente, também o professor será responsabilizado pelo futuro de uma pessoa, de um grupo profissional e até de uma sociedade inteira.
Uma ética da justiça no sistema educativo, centralizada no aluno e no processo de avaliação, é essencial para a formação de cidadãos íntegros, competentes e justos. Na formação dos cidadãos do futuro, não há caminho que não tenha que passar pela trilogia: Educação-Aluno-Professor.
Bibliografia
HAYDT, Regina Célia Cazaux, (1997). Curso de Didática Geral, 4ª ed. S. Paulo: Editora Ática
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
NALAP.ORG
http://nalap.org/Directoria.aspx