Artigo de Pedro Novaes: 'A culpa é nossa'

 

colunista do ROL
Pedro Novaes

Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘A CULPA É NOSSA’

 

Os políticos nuca gozaram de grande prestígio popular.

A autoridade recente de melhor imagem e memória é Itamar Franco, acusado de ostentar os mais controversos topetes e deixar-se assediar por belas mulheres, todas jovens. Defeitos virtuosos !

Após séculos e séculos de persistentes desgastes, a figura do político brasileiro, de vereador a senador, de prefeito a presidente, é associada à corrupção, fisiologismo, enriquecimento ilícito e divórcio dos interesses do país. Nosso sistema eleitoral e partidário sempre premiou as piores figuras com reeleições seguidas, quase perpétuas.

Obras e políticas públicas sempre foram propagandeadas e acreditadas como favores pessoais deste ou daquele político, e são muitos os funcionários comissionados, não raro cabos eleitorais permanentes, pagos com recursos públicos.

No Brasil, os cargos e funções parecem conferir mais benesses que ônus e responsabilidades, e os ocupantes parecem ungidos, não simplesmente empossados.

A reação popular, depois de séculos de desmandos, aberrações e desonestidades, só podia vir, e veio, com o descrédito generalizado e repulsa peremptória. Hoje, até letrados confessam e irradiam a noção de que nenhum político presta, e que o poder do voto é mera ficção.

Ocorre que não existe solução ou melhora que não passe pela via política. A política não é necessariamente suja, e representa o único elo entre a população e o Estado.

É infantil e irreal a noção de que virá, dos céus, um cavaleiro justo e perfeito, montado em belo corcel, para tornar nosso ambiente probo e respeitador. A ideia, ensina-nos a história, sempre conduziu a ditaduras e fascismos. A democracia é uma prática política.

Ditadores surgem jurando amor ao pobres e apego aos valores e tradições populares. Aos poucos, lotam as instituições com doutrinados, e acabam colocando o país a serviço de seus interesses particulares e de seu grupo de doutrinados. Como julgam-se enviados dos céus, fazem da terra seu brinquedo predileto.

A honestidade pessoal não pode ser encarada como virtude, mas como obrigação. Desonesto não é só o que rouba, mas também, e principalmente, aquele que se omite.

Existem milhares de bons políticos, a maioria pouco referida pela mídia, e, importante, não buscam mandatos consecutivos. Buscar seguidamente a reeleição é desonestidade política.

Ignorar que existem bons políticos, e lança-los todos à vala comum da latrina nacional, é abdicar do poder do voto e abrir mão da democracia. Os brasileiros votamos mal e de maneira irresponsável.

Votamos, ainda, no cidadão sabidamente imprestável, pelo fato de um sorriso, cumprimento, parentesco, amizade pessoal ou promessa. A tão aplaudida lei da Ficha Limpa pode e deve ser aplicada por cada cidadão, que bem conhece a fera em que votou, defecando na urna.

O cidadão que anula o voto ou vota em branco tem, no mínimo, a obrigação de ser candidato, ou convencer algum virtuoso a fazê-lo.

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.