Empresária chama atenção para a voz feminina no mercado editorial
Para Clécia Aragão O., 24 anos de mercado editorial, a apropriação cultural, intelectual e a invisibilização da mulher têm data de validade e o mercado precisa se dar conta disso
Mulher que esteve à frente da mesma editora por 24 anos, CEO e líder educadora, Clécia Aragão O. enfatiza: “as mulheres ganharam espaço, mas ainda é um espaço subjugado”. Segundo ela, o mercado editorial é manipulado pelo patriarcado e muitos nomes femininos ainda vivem à sombra de fundadores, sócios, escritores, editores, diretores, ex-maridos e cuja amplitude dessa problemática ainda nos mantém em inércia em detrimento a nossa liberdade e autonomia principalmente no caso de mulheres de origem afro-indígena.
“O mercado editorial é extremamente patriarcal e moldado sobre a luz do eurocentrismo, ainda precisamos ficar à sombra ou nos bastidores para dar a voz ao patriarca”, reforça a gestora. “Vale lembrar”, segue ela, “que durante muito tempo a mulher não tinha direito nem mesmo a consumir literatura, quando mais de produzi-la”.
Hoje, de acordo com a empresária, a realidade só parece ser muito diferente: “sim, temos mulheres ativas, exercendo seu trabalho e ganhando cada vez mais voz, mas, no fundo ainda é possível perceber que estamos sempre brigando contra a invisibilidade, correndo risco de apropriações intelectuais convivendo com menores salários”.
À frente da Pingue Pongue Educação, empresa de jogos educativos e cujo objetivo é ampliar o olhar sobre a inclusão, Clécia enfatiza a necessidade da convivência maior entre os gêneros e de mais espaço para que a mulher possa exercer suas habilidades e competências com autonomia e, acima de tudo, com respeito: “é preciso respeitar que existe um feminino que faz parte e é contributivo”.
Para ela, toda empresa é gerida por pessoas e só com a integração desse conceito é que a realidade começará a mudar: “não fragmentados em homens e mulheres, mas unidos como grupos equânimes com competências, habilidades, responsabilidades. Vemos as próprias mulheres aceitando espaços menores, evitando ‘atrapalhar’. Mas até quando a apropriação cultural, intelectual e invisibilização vai perdurar? Qual seu prazo de validade?
Para responder a essa pergunta e outras. um novo projeto da gestora vai trabalhar exatamente para dar voz e trazer à luz especialmente às partes mais invisíveis dessa estrutura: as mulheres afroindígenas, as primeiras na linha da invisibilidade: “estamos estudando o mercado e entendendo como não só as mulheres, mas todos que ainda não se reconhecem estampados e validados no mundo de hoje podem ser beneficiados. A grande questão é trabalhar uma nova forma de inclusão e as mulheres, levando em consideração cada seccionalidade. incluindo a minha raiz indígena, precisam estar contempladas”, finaliza.