Marcus Hemerly: 'Walking Tall: A saga do herói'
CINEMA EM TELA
Walking Tall: A saga do herói
Inúmeras são as obras no cinema e literatura que amoldam a figura do herói. Super poderes, apetrechos e invenções são comumente as armas e escudo de tão impressionantes figuras. Todavia, não raro, a história ou “vida real” utilizando uma definição mais popular, transcende a própria ficção em termos de emoção e surpresa. Numa das inúmeras incursões em sebos e bancas de jornal, deparei-me – e aqui peço escusas ao leitor pelo uso da primeira pessoa – com um título que há muito procurava. Um policial old fashioned, retratando não apenas mais uma história pautada em cidades pequenas envolvendo seu drama social, mas o que existe no plano subjacente. Em “Um Herói de Verdade”, (A Real American Hero, 1978), inicialmente se verifica um roteiro sem grandes pretensões, em uma repetição do que se estava acostumado para aquele subgênero, principalmente nas décadas de 60 e 70. Ressalte-se que a diferença repousa na lição de vida e mensagem por trás do acontecimento narrado.
Decerto, muitos não conhecem a história real de Buford Pusser, xerife no Tennessee e sua cruzada de um homem contra os vícios e o crime organizado, diante do reflexo delituoso sobre os cidadãos de sua cidade. Traçando e vivendo uma proposta de “limpar” o crime que permeava de modo endêmico sua comunidade, sofreu inúmeros atentados à sua vida, um deles, resultando na morte de sua esposa, Pauline Pusser, sendo um baluarte aos princípios éticos do cidadão comum. Nesse plano, indaga-se: o que seria o herói?
Roberto Gomez Bolanos, intérprete e criador do famoso Chapolin Colorado, certa vez em uma entrevista, quando perguntado acerca de Superman e Batman, entre outros, disse: “Não são heróis. Herói é o Chapolin Colorado. Ser herói, não é não ter medo, mas superá-lo. Às vezes, perder, outra característica dos heróis, suas ideias eventualmente triunfam; quantos fuzilados conhecemos!”. Certamente, uma assertiva que nos faz repensar a ideia do herói real e aquela concebida num tom fantasioso. Não que identifique um defeito; um pouco de fantasia e elucubrações etéreas são necessárias e válidas, mas interessante atentar a todos os desdobramentos da palavra e suas manifestações.
São provocações despertadas quando me deparei com o título “Um herói de verdade”, no qual Pusser é magistralmente interpretado por Brian Dennehy, falecido em 2020, típico cara durão ao estilo Clint Eastwood. Tão fascinante é a história real, suplantando inclusive a ficção, que uma série de filmes baseados nas aventuras e feitos do xerife foi produzida enquanto ele ainda vivia e nos anos posteriores à sua morte (até hoje misteriosa); a melhor delas, “Fibra de Valente” (Walking Tall, 1973), na qual o xerife é vivido por Joe Don Baker, (de Cabo do Medo, 1990).
No início dos anos 2000, foi produzida uma esquecível releitura da saga de Pusser, protagonizada por Dwayne Johnson, (Com As Próprias Mãos), relembrando a noção de que as concepções ou preconcepções de uma comunidade podem ser reinventadas pela disposição de apenas um de seus integrantes, como forma de inspiração para quem tem olhos para ver e coragem para agir. Deixo voluntariamente de traçar maiores ponderações ou inserir informações sobre o caso real, como forma de instigar uma leitura mais aprofundada ao leitor, que, certamente, não se decepcionará ao pesquisar mais fatos sobre o xerife dos tempos moderno e suas aventuras. Numa tarde chuvosa de fim de semana, filmes como Fibra de Valente e Um Herói de Verdade, além de bom entretenimento, despertam reflexões em torno da ética, espírito de grupo e atitude. Após assisti-los, pergunte-se ou confronte sua própria ideia acerca do conceito de heroísmo.