Jorge Facury: 'Pedro na pedra e a reza'

Jorge Facury

Pedro na pedra e a reza

Pedro é uma pessoa aqui do bairro que pode ser considerada figura de interesse sociológico. Cabeleireiro de mão cheia, passou por vicissitudes da vida e se perdeu seriamente no alcoolismo. Por uns bons anos foi morador de rua. Pelas conversas que já tivemos, sei que é dotado de forte mediunidade. O que ele conta é pra constar em livro! Não tem medo dos fenômenos, é rezador, mas, sempre “perseguido”, passa uns apuros e não se intimida, dá surras nos espíritos que lhe perturbam.

Seu filho é evangélico de uma igreja de doutrina muito rígida e deplora a situação do pai, retém o dinheiro da aposentadoria dele para que não beba… Acaba ficando sem nada. A nora, então, nem o quer perto! Ele anda pelas ruas o dia inteiro, com uma disposição que jovens não têm!

Quando em seu quartinho, ouve passos no telhado, barulhão, o que o faz esbravejar; tem espírito que o cerca na rua…Ele, de muleta (pois foi atropelado mais de uma vez e tem o corpo todo cheio de pinos) enfrenta com rezas fortes, movimentando a muleta no ar!

Contou-me fato curioso: que certa vez estava dentro de uma igreja e o “tal”, tão temido pelos religiosos, estava lá dentro, disfarçado no meio dos fiéis, sorria pra ele e piscava, com ar de troça…Imagina a cena!

Bem, daí que sempre me procura para pedir umas moedas, isso é recorrente. Pega reciclagem, que também guardo pra ele. Toda vez que lhe repasso o vil metal, agradece, me abençoando muito e diz que reza por mim. Eu o incentivo: “reze mesmo, Pedro, eu preciso! ” E não é papo, eu preciso mesmo! (rs) Ele diz: “minha reza é forte, não tem comédia não! ”

Muitas vezes não me acha em casa e senta na pedra, uma rocha grande que tenho na calçada, fica lá um bom tempo. Depois vai embora e deixa uma espada de São Jorge que colhe por aí, encostada na pedra, para que eu saiba que esteve aqui. É uma “senha”. Em alguns momentos me pego pensando: “será que reza mesmo ou é papo pra me agradar porque dou as moedas? ” Aí, recentemente, aconteceu o seguinte: encontrava-me agachado atrás do meu carro na garagem, verificando o pino de ar do pneu e ele apareceu no portão; chegou capengando, bêbado, com um ferimento no rosto (deve ter caído) e fiquei quietinho, esperando que fosse chamar, pois não me notou. Não chamou! Ficou balbuciando coisas na direção de minha porta de entrada, fazendo movimentos com as mãos, como o Papa faz perante os féis na Praça de São Pedro, sinal da cruz uma vez, duas, três, repetidamente…e rezou, rezou, pedindo proteção.

Eu ali, agachado, constatei a veracidade da reza! Sinceridade pura! Tudo feito, saiu lentamente, e se foi. Dissolveu-se a dúvida minha… Pedro é forte mesmo! Como a rocha em que se assenta!

Jorge Facury