Claudia Lundgren: 'Árvores e cavernas'

Claudia Lundgren

Árvores e cavernas

Não são poucas as vezes que eu, assim como Elias, desejo sentar embaixo de uma árvore e ali adormecer. Existe momentos em que os pés se cansam, em que o mundo se levanta e somos tomados pelo medo; queremos permanecer ali, embaixo dela, se possível para sempre.

De repente, toca o despertador; nos deparamos com o choque da realidade; temos que comparecer àquela reunião inadiável; está na hora do trabalho; o filho adoece e precisamos providenciar a compra do remédio; nos sentimos sem forças para levantar. Então, no momento exato, o Criador vem e nos fornece o alimento necessário para enfrentarmos o dia. É como se ele mesmo organizasse a nossa agenda, com uma série de compromissos, nos impelindo a prosseguir; é como se Ele nos dissesse: ‘Coragem! Toma o seu café e vá!’.

Quantas vezes um sorriso esconde a tristeza na alma; quantas vezes você aconselha um amigo com o peito em frangalhos; quantas vezes sua intenção é boa, mas tudo sai errado; quantas vezes você consegue matar os ursos e os leões do seu dia, e na volta para casa você avista novamente aquela árvore e deseja então se despir de tudo, jogar no chão sua bolsa pesada, e ser simplesmente você: um ser frágil desejando abrigar-se, esconder-se, isolar-se repousar; hibernar, sem que nada e nem ninguém lhe incomode.

Você planeja aquele encontro em família, compra o que há de melhor, prepara o alimento. Seu cabelo preso, o rosto lavado sem maquiagem, aquela roupa de andar em casa; você não teve tempo para si, porque priorizou os outros. A casa estava limpa, a comida e a sobremesa prontas; tudo parecia perfeito;  você pôs amor em tudo isso, mas ninguém percebeu. A massa desandou; o almoço familiar terminou em discussões. E avistamos a árvore;  ela animosamente nos atrai, e nos diz: ‘Vem!’.

Então, de repente bem cedo o bebê chora querendo mamar; o telefone toca e a sua mãe precisa de ajuda; é segunda-feira, dia de passar o lixeiro. No fundo a gente queria era permanecer dormindo debaixo da árvore. Acomodação? Nem sempre.

E o Criador põe uma farta mesa de café matinal, e mais uma vez nos diz: ‘Alimente-se e vá!’.

Muitas vezes necessitamos mais do que uma árvore para nos servir de abrigo;  tem dias que o que desejamos mesmo é de uma caverna para ‘sumirmos do mapa’; um lugar distante, onde ninguém possa nos encontrar; onde a gente possa esbravejar e chorar sem sermos vistos ou julgados. Têm dias em que os ursos e os leões diários é que desejam nos matar; têm dias que os ventos são fortíssimos, e nós, em busca de proteção, buscamos o fundo da caverna. Nesses períodos, somente o café da manhã não é o suficiente para nos sustentar, seria  preciso uma refeição reforçada. Até que a gente escuta a voz do Criador nos dizendo para chegarmos até a entrada da caverna e observarmos que, no lugar do furacão que, sedento, almejava nos tragar, a atmosfera mudou: uma brisa doce e suave toma conta do ambiente, nos convidando e nos impulsionando a seguir nossa jornada.

Alguém disse que seria fácil, que não existiriam os percalços?

Somos humanos, vulneráveis, frágeis, pó, e muitas vezes a nossa vontade é a de ceder aos chamados das árvores e cabanas, assim como fez Elias; e muitas vezes necessitamos mesmo desse tempo; mas o Criador, percebendo quão profundo está o nosso sono, amorosamente nos desperta, nos alimenta e nos encoraja, até que a nossa missão na Terra seja completamente cumprida.

Claudia Lundgren

tiaclaudia05@hotmail.com