Carlos Carvalho Cavalheiro: 'Quimera ser'
Quimera ser
Quisera ser um poeta como Erivelto
Não o Martins, que também é bom,
Mas o Sales que com tantos sais e menos ais
Mergulha como escafandrista na alma
E recupera os verbetes esquecidos
No fundo do oceano dos léxicos…
Guarda cada palavra num badameco
Costurando as páginas na esperança de dar carne
A um raro alfarrábio esquecido nos escaninhos
Da memória coletiva da humanidade.
Quisera eu não ser um bigorrilha
Metido a valente na produção de versos
Pois o inverso e o reverso de outro poeta
Emudece o meu long-play de vinil janistroques
Com a acústica espectográfica rouca voz
De Janis com os seus toques e retoques.
Maenga ou meganha, se ganha ou se perde,
Que diferença faz sonhar com a liberdade
Se o policial vive dentro de você?
Quimera ser vasto e complexo,
Quisera eu poder ser assim,
Heterogêneo e incongruente,
Mas ter o domínio do oleiro das palavras
E compor a mais perfeita escultura poética
Como num poema de Erivelto Sales.
Carlos Cavalheiro
escritor, poeta e historiador brasileiro
19.02.2023