O leitor participa: Albertina Catuta Severino Numa, de Luanda/ Angola, com o conto 'Labutas & lutas brutas'
Labutas & lutas brutas
Meury era uma moça muito séria, que não pensava em coisas fúteis, e nisso, incluía até o namoro, já que tinha pouca idade, 16 anos. Os seus pais davam tudo que ela precisasse, filha única de António e Daniela, portanto, muito mimada.
Um dia, a vida lhe trouxe um rapaz pelo caminho, era o Joel. Jovem decidido e corajoso, que, no cruzamento com a Meury, chamou-a delicadamente. Meury cedeu ao chamamento. Conversaram, trocaram sorrisos e, até, contactos.
Durante tempos, Joel ligava para Meury. Senhora Daniela desconfiava das constantes ligações que a filha recebia, e já via a filha estranha. Na inquietude, perguntou ela:
– O que é que se passa contigo? Há algum problema?
– Nada, mãe.
– Mas andas muito distraída no telefone esses dias. Se tem alguma coisa, diga! Eu te conheço.
Meury ficou agitada, assustada e apanhou um choque.
– Nu tem memo nada mãe. É impressão sua.
Só foi preciso três meses depois para Meury passar a ter saídas com o moço. Namoraram, evolveram-se e Meury concebeu. Eram inevitáveis aqueles sintomas da gravidez, assim, Meury não podia esconder por muito tempo aquele segredo. Ou os sintomas contam, ou a barriga conta, ou ela mesma se decidia em adiantar o assunto.
– Estou grávida, mãe. – contou de repente.
– Estás o quê, Meury? Você… – interrogou a mãe, triste e passada.
– Eu…
– Eu a merda. – interrompeu a mãe. – Vais resolver isso com o teu pai. Mas o que é que te faltou nessa casa? Não comias? Não vestias? O que pedias, não te davamos? Faltou o quê?
Meury estava sentida. Mas não podia responder nada naquele momento. E não era tudo, pois precisava conhecer a reação do pai.
À noite, Daniela colocou o esposo sentado e lhe contou do cenário. António não precisou esperar minutos. Levantou-se donde estavam e dirigiu-se para o quarto da filha, tirou toda roupa dela e deitou fora. Chegou à filha, deu-lhe o mínimo de porrada, até a mãe intervir.
– Chega, querido. Chega!
– Vai para a merda da pessoa que te engravidou. Na minha casa você já não fica.
A mãe tentou acalmar o marido e estar do lado da filha naquele instante, pois a ira do senhor era enorme. Coitada, foi empurrada junto da filha, mas também não lhe permitiram fazer nada. Meury foi expulsa, e Daniela entrou em casa com bicos.
Sem saída, Meury decidiu ir à casa de Joel e explicar-lhe tudo. Chegou e bateu à porta.
– Dá licença! Dá licença! – insistia ela.
– O que fazes aqui a essa hora e assim? – atendeu Joel, assustado.
– Fui expulsa de casa porque estou grávida. Vamos ter um bebé.
– Vamos não. – disse Joel. – Vais ter sozinha porque esse bebé não é meu. Essa gravidez não é minha.
Meury foi abandonada pelos pais e pelo namorado. Tempos depois, numa fase em que ela já tinha o bebé, reencontrou-se com Joel. Joel olhou para a criança, e os traços físicos lhe acusavam a paternidade. Meury tinha deixado de estudar para assumir a gravidez e cuidar da criança. Tinha dificuldades de sustentar a criança. Tudo que precisava ela lutava sozinha. Joel olhou fixamente para a criança e abriu a boca para dizer alguma coisa.
Albertina (Beth) Catuta Severino Numa nasceu em Luanda-Angola, aos 07 de fevereiro de 2007. Fez os seus estudos primário no Colégio Josswana, o Iº ciclo no Colégio Dr. António agostinho Neto. Actualmente, é estudante do Instituto Médio Técnico Privado de Saúde Gênesis do Saber, onde frequenta o curso de enfermagem. É escritora, destacando-se no conto. Membro do Projecto “A Escola & o Livro”, coordenado pelo professor e escritor Orlando Ukuakukula