Sergio Diniz da Costa: 'A alma ecológica de Juvenal Alves dos Santos'
Quais qualidades um ser humano deve ter para ‘fazer a diferença’ na sociedade? Posses financeiras? Um altíssimo grau acadêmico? Talento artístico?
Quais qualidades um ser humano deve ter para ‘fazer a diferença’ na sociedade? Posses financeiras? Um altíssimo grau acadêmico? Talento artístico? Ou, a exemplo das alternativas de uma prova, ‘nenhuma das anteriores’?
Ao Tietense (SP) Juvenal Alves dos Santos, de 85 anos, não se aplica as demais alternativas. Com apenas o quarto ano do antigo Primário, minguada aposentadoria e sem nenhum destaque artístico, Juvenal, no entanto, faz, sim, a diferença!
Da lavoura à fábrica
Nascido na zona rural de Tietê, Juvenal laborou muito tempo na lavoura, inclusive na divisa do estado do Paraná. Reconhecidamente uma atividade penosa e de baixo rendimento financeiro, sentia que era necessária uma opção que, futuramente, lhe garantisse uma aposentadoria mais tranquila, e, com essa visão, em 1961 mudou-se para Sorocaba/SP, encontrando trabalho em fábricas, nas quais laborou como operador de máquinas, ajudante de fundição e marteleiro.
Casamento, viuvez e uma promessa
Em 1964 casou com Benedita Vieira e passaram a morar numa casa muito simples, mas um abrigo e, sobretudo, um lar. Do casamento advieram oito filhos, um já falecido, perda que fustigou duramente o coração de Juvenal. E ainda tentando mitigar a dor da perda do filho, a vida, semelhante ao oceano de águas calmas, mas também de borrascas, mais uma vez apresentou-lhe uma provação. Em 2004, nova dor apossou-se de seu coração com a morte da esposa.
Dona Benedita demostrava paixão por flores e plantas e, ao final da vida, pediu a Juvenal para que continuasse a cuidar delas. O pedido foi recebido com um juramento. Porém, em seu íntimo, sem que o cuidar se resumisse ao lar. No bairro onde mora, próximo de sua casa a continuação da rua é de terra e, até certo momento, tão somente com mato. Para Juvenal, um terreno onde passaria a cumprir o juramento.
Do chão bruto, cores e sabores
Os tempos da lavoura afloraram novamente na alma do homem em cujo corpo o tempo tatuou o rosto com rugas profundas. E a ferramenta do passado voltou-lhe às mãos.
A continuação da rua Agostinho de Vito, no Jardim Piratininga, era de terra e o mato a única paisagem. Um lugar apropriado a quem tinha um alto propósito a cumprir.
E a semeadura teve seu início. O mato, gradualmente, cedeu lugar às flores, numa profusão de cores, entremeadas de abacateiros, mamoeiros, limoeiros, mangueiras, pés de amora, pitanga e acerola. Onde antes havia tão somente o chão bruto, hoje vicejam cores e sabores.