Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo: 'Controlo da predestinação humana'
Controlo da predestinação humana
Até que ponto se pode afirmar, e confirmar, que o Ser Humano é dono do seu próprio destino? Que o pode controlar? Trata-se de questões extremamente complexas, de difícil resposta e de poucas ou nenhumas certezas, porque são imensas as variáveis que interferem com a vida humana, com a sociedade e com o mundo, muitas das quais, escapam à previsão, controlo, verificação e resolução do próprio Ser Humano, não obstante o potencial científico, técnico e tecnológico de que dispõe, atualmente, em quantidade e qualidade.
Neste âmbito, poderá existir sim, uma crise que se agrava com a dificuldade em se explicar, cabal e inequivocamente, o “Destino” da pessoa humana, na sua componente espiritual, alma, consciência ou qualquer outra designação, que seja possível adotar, principalmente para quem acredita nesta dimensão que, provavelmente, estabelece a diferença fundamental entre o Ser Humano e um qualquer outro ser, até agora descoberto, e conhecido pela ciência.
Afirmar-se que toda e qualquer pessoa é dona do seu “Destino”, parece excessivo, na medida em que nem tudo depende de cada interveniente na sociedade. Há situações que, embora se possam prever, como por exemplo: certo tipo de patologias, acidentes de trabalho, desemprego, entre outras, a verdade é que nem sempre é possível determinar o momento exato, as circunstâncias em que vão ocorrer e as consequências que daí advirão.
A título, meramente ilustrativo, coloque-se uma hipótese real: uma pessoa que tem necessidade de viajar, todos os dias, na sua própria viatura, para o local de trabalho, ou simples passeio turístico, que dirige obedecendo a todas as normas e precauções, de repente é abalroada por outra viatura, provocando grandes estragos materiais e, eventualmente, ferimentos graves, ou até a morte, no condutor que, sem qualquer culpa, sofreu um acidente.
Seria possível prever esta situação, nas precisas condições em que ocorreu? Claro que todas as pessoas que circulam numa via qualquer, estão sujeitas a acidentes; mas como “adivinhar” que: àquela hora, naquele local, um outro condutor, provocaria uma situação, da qual não temos qualquer culpa nem responsabilidade? Se a resposta for positiva, ou seja, decifrar o que de mal nos pode acontecer, então ninguém pode circular, nem sair de casa, no limite, toda a gente tem de viver recolhida e “estaticamente”, o que, também é impossível e, mesmo assim, continua a não haver nenhuma garantia de que perduraremos vivos.
Neste mundo moderno, em que é possível questionar muitos princípios, valores, situações, comportamentos e até sentimentos, respeitando, todavia, deveres e direitos das restantes pessoas, também é verdade que há determinadas interrogações que continuam sem respostas convincentes, designadamente: aquela célebre e milenar trilogia: “Quem Sou? De Onde Venho? Para Onde Vou?”.
A existência humana é riquíssima, e este mundo moderno em que ela decorre, torna-a, ainda, mais interessante e instigadora, para que sejam introduzidas, cada vez mais, e melhores, condições de vida. Há uma busca incessante, na determinação de uma orientação para se caminhar na direção a um “Porto Seguro”, este construído em cima de valores essenciais à sociedade civilizada.
O Controlo do destino da pessoa, enquanto entidade titular de princípios, valores e sentimentos, no espaço físico da Terra é, relativamente, conseguido, e verifica-se grande preocupação em aperfeiçoar os pontos positivos, para que a vida neste planeta seja cada vez mais fácil e aliciante.
Nesta movimentação, que cada vez é mais acelerada, nem sempre se consegue pensar no real sentido da vida humana, o que provoca alguma desestabilização e desorientação, individual e coletiva. Vivemos assoberbados por um “materialismo sufocante” e o mais importante, para um número crescente de pessoas, é o TER, quando talvez fosse fundamental lutarmos, também, pelo SER, porque é no sermos pessoas, que nos podemos realizar, com superioridade e dignidade. É no sermos verdadeiramente pessoas humanas, que nos distinguimos dos restantes seres que connosco coabitam neste planeta.
O mundo moderno, certamente, e não obstante os muitos pontos positivos, não é um “mar de rosas”, ele está, tal como a vida, repleto de “esquinas pontiagudas”, de “montanhas” e “vales” o mesmo é dizer, de “altos e baixos”. Que ninguém pense que vai estar sempre do lado bom da vida, e que nunca vai necessitar do apoio do seu semelhante. A questão radical, por isso mesmo, continua a atormentar-nos.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
NALAP.ORG